Toda vez que abro alguma rede social me deparo com meia dúzia de "revolucionários" apoiando alguma causa que eles mal se deram o trabalho de analisar direito. Convenientemente esta causa quase sempre é a que todos os outros estão apoiando, porque na era da rede social, alienação vem a dar com pau.
Hoje, o que vi foi mais uma daquelas postagens generalizadas atribuindo corrupção à polícia como um todo, e tratando o criminoso como vítima da sociedade. Não me entenda errado: estudei criminologia com atenção suficiente para concluir que o nosso sistema penal é autofágico. Em outras palavras, o Estado se alimenta da merda que ele cria. Isto, todavia, não significa que a merda seja uma ilusão. Temos sim que investir na educação, ações afirmativas, sistema carcerário capaz de reinserção social, e numa cultura que não veja o criminoso como "o outro irrecuperável". No entanto, não podemos negar que, enquanto a coisa não melhora, já existe e vai continuar existindo homicídio, tráfico (de drogas, órgãos e até pessoas), estupro, roubo e por aí vai. Descobrir que o criminoso foi criado pelas circunstâncias não desfaz o mal que ele está fazendo aos indivíduos que o cercam.
Agora que cheguei onde eu queria chegaram, eis meu desabafo. Porque, saibam vocês ou não, o mal que é feito muitas vezes recai sobre os policiais. Quando isto acontece, ninguém se rebela: trata-se apenas de uma fatalidade envolvendo o policial, que estava fazendo o seu trabalho. De outro lado, contudo, se algo ocorre com um criminoso, os pseudo-politizados já começam a se debater. De repente a polícia (em abstrato, porque quase nunca as pessoas têm a sensibilidade de ao menos considerar que em todos os ramos temos competência e corrupção coexistindo) é um órgão alienado, que desrespeita os direitos humanos e que deveria ter agido com mais cautela.
O que as pessoas falham em considerar é que o policial, que normalmente está lá cumprindo ordens, é um ser humano com medos, uma vida para preservar e família esperando em casa. Se algo acontecer a ele, não é só uma farda que está caindo por terra: É UMA PESSOA. E sim, as chances de algo acontecer aos policiais é bem grande, porque os ataques a estes profissionais (muito embora isto não seja noticiado devidamente) têm crescido drasticamente. Enquanto isso, a sociedade apedreja e solicita que as mãos dos policiais sejam ainda mais atadas que já estão.
Com este discurso não pretendo fazer vista grossa aos policiais que abusam da força e do poder, abrem fogo sem ter prova e se deixam corromper. Como eu já disse antes, existem bons e maus profissionais em todas as áreas.
Também não vou deixar passar em branco o fato de o criminoso, assim como o policial, ser ALGUÉM com direito a vida, família e novas chances.
Mas então o que fazer diante deste embate? APRENDER A CRITICAR E ATACAR O PROBLEMA CERTO. De nada adianta o povo se rebelar se não sabe ter foco e enxergar o que interessa!
A polícia segue ordens vindas de cima. Alguém com dinheiro e poder está sentado em sua confortável poltrona determinando que subordinados coloquem suas vidas em risco, bem como se sujeitem a receber represálias da sociedade maniqueísta (o policial é o mauzinho e o criminoso é o coitadinho, ou vice-versa). Este indivíduo que dá as ordens ao policial, por sua vez, atua dentro de um sistema que já é todo fodido, pois estruturado por pessoas que representam interesses fragmentados (vide a divisão do legislativo em bancadas, que se ocupam de ninharias e nunca atacam os problemas reais). Quem dá a ordem normalmente não é visto, atua por trás dos panos, e por isso não é repreendido pelo povo ou pela mídia.
Sobra então para quem? Para os policiais, que ganham mal, obedecem ordens, e são responsabilizados por um problema que é infinitamente mais profundo, e que nunca vai ser plenamente enxergado pelos cidadãos brasileiros: criaturas tapadas que só conseguem ver a ferida, mas nunca enxergam a causa dela.
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