domingo, 5 de março de 2023

Rápido e Devagar, de Daniel Kahneman (RESUMO)

 

"Rápido e Devagar" é um livro escrito pelo renomado psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2002. Neste livro, Kahneman apresenta uma análise detalhada de como a mente humana funciona, mostrando como os processos mentais de raciocínio, tomada de decisão e julgamento são influenciados por diversos fatores, como emoções, crenças, vieses cognitivos e outros aspectos da psicologia humana.

O livro é dividido em duas partes: a primeira parte, intitulada "Rápido", aborda o sistema de processamento mental rápido e automático, que Kahneman chama de "Sistema 1". Ele explica como esse sistema é responsável pela maioria das nossas decisões e como ele é muitas vezes influenciado por fatores emocionais e cognitivos que nem sempre levamos em conta.

A segunda parte, intitulada "Devagar", apresenta o sistema de processamento mental lento e deliberativo, que Kahneman chama de "Sistema 2". Ele mostra como esse sistema é responsável pela resolução de problemas mais complexos e como ele pode ser influenciado por fatores como cansaço, falta de atenção e outros aspectos da cognição humana.

Ao longo do livro, Kahneman utiliza exemplos práticos e estudos científicos para ilustrar suas ideias e mostrar como podemos nos tornar mais conscientes dos processos mentais que influenciam nossas decisões. Ele também discute como podemos aprender a controlar esses processos e tomar decisões mais conscientes e informadas, tanto na vida pessoal quanto profissional.

PARTE 1 - DOIS SISTEMAS

1. OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA 

O "Sistema 1" e o "Sistema 2", para ilustram a dualidade da mente humana.

O "Sistema 1" é descrito como o sistema de processamento mental rápido e automático, responsável pela maioria das nossas decisões cotidianas, como reconhecer rostos, dirigir um carro ou sentir medo. Ele é influenciado por fatores como emoções, instintos e associações de memória, e pode levar a decisões impulsivas e viesadas.

Por outro lado, o "Sistema 2" é o sistema de processamento mental lento e deliberativo, que é responsável por resolver problemas complexos e tomar decisões conscientes e racionais. Ele requer mais esforço cognitivo e é influenciado por fatores como atenção, memória de trabalho e autocontrole.

Kahneman argumenta que os dois sistemas de processamento mental trabalham juntos para moldar nossa experiência cognitiva e que a interação entre eles pode afetar nossas decisões de maneiras diferentes. Ele também destaca a importância de entender esses sistemas para melhorar nossas habilidades de tomada de decisão e evitar vieses cognitivos que podem prejudicar nossas escolhas.

2. ATENÇÃO E ESFORÇO

A atenção e o esforço cognitivo afetam nossas decisões e julgamentos.

A nossa capacidade de atenção é limitada e isso pode levar a erros de percepção e memória. 

"Carga cognitiva" é a quantidade de esforço mental necessário para realizar uma tarefa. Quando a carga cognitiva é alta, nossas habilidades de tomada de decisão e resolução de problemas são afetadas negativamente, pois temos menos recursos cognitivos disponíveis para trabalhar.

A fadiga mental pode afetar nossa capacidade de autocontrole e levar a decisões impulsivas e viesadas. Há estudos que mostram que o esgotamento mental pode levar a comportamentos pouco éticos e a uma maior suscetibilidade a vieses cognitivos.

Algumas estratégias para lidar com esses desafios cognitivos incluem a prática de mindfulness e a redução da carga cognitiva. 

3. O CONTROLADOR PREGUIÇOSO

O "Sistema 2" é preguiçoso e relutante em tomar decisões, principalmente quando está cansado ou sobrecarregado. Ele consome muita energia mental e tendemos a evitá-lo sempre que possível, optando pelo Sistema 1, que é mais rápido e fácil de usar. 

Mesmo quando usamos o Sistema 2, muitas vezes não tomamos as melhores decisões, pois somos influenciados por vieses cognitivos e outras limitações cognitivas.

Há estudos que mostram que a preguiça do Sistema 2 pode levar a erros de julgamento e decisões pouco informadas. A preguiça mental pode ser exacerbada por fatores externos, como prazos apertados, pressão social e outras demandas que podem aumentar a carga cognitiva.

Algumas estratégias que podemos adotar para lidar com a preguiça do Sistema 2 e tomar decisões mais conscientes e informadas incluem a adoção de hábitos que promovem a saúde mental, como uma boa noite de sono e a prática de exercícios físicos, além de técnicas de gerenciamento do tempo e do esforço mental, como a divisão de tarefas em partes menores e a eliminação de distrações.

 4. A MÁQUINA ASSOCIATIVA

Nossas mentes fazem associações automáticas entre diferentes ideias e conceitos. Essas associações podem influenciar nossas decisões e comportamentos. Tais associações mentais podem levar a estereótipos e preconceitos, como o fato de associarmos automaticamente as mulheres aos cuidados domésticos ou os homens à liderança. Elas também podem ser influenciadas por fatores externos, como o ambiente em que estamos ou as informações que recebemos.

As associações podem ser reforçadas pelo "efeito de mera exposição", que é a tendência de gostarmos mais de algo simplesmente porque já estamos familiarizados com ele. Segundo estudos, esse efeito pode influenciar nossas preferências e escolhas, mesmo que não estejamos conscientes disso.

A exposição a diferentes perspectivas e informações, a prática da reflexão crítica e a adoção de um pensamento mais consciente e deliberativo são maneiras de combater tais influências.

5. CONFORTO COGNITIVO

Tendemos a buscar informações que confirmam nossas crenças e ignorar aquelas que as desafiam, criando assim um "conforto cognitivo". Por conseguinte, o viés de confirmação pode influenciar nossas decisões e julgamentos, levando-nos a ignorar evidências que vão contra nossas crenças e a buscar ativamente evidências que as confirmam.

O conforto cognitivo pode ser exacerbado por outros fatores, como a polarização política e a pressão social para conformidade. 

Para lidar com o conforto cognitivo, devemos buscar a exposição a diferentes perspectivas e ideias, o desafio de nossas próprias crenças e a busca ativa por informações que possam contradizer nossas visões de mundo. 

6. NORMAS, SURPRESAS E CAUSAS

Nosso julgamento é influenciado por nossas expectativas e normas sociais, bem como por nossa capacidade de detectar padrões e causalidade.

As expectativas podem levar a erros de julgamento, como quando julgamos erroneamente o desempenho de uma pessoa com base em nossa expectativa anterior sobre ela. Ademais, as normas sociais podem influenciar nossos julgamentos, como quando seguimos a maioria mesmo quando sabemos que estão errados.

Nossa capacidade de detectar padrões e causalidade pode levar a erros de julgamento, como quando atribuímos causalidade a eventos que são simplesmente aleatórios ou coincidentes. Isso pode levar a superstições e crenças infundadas.

Daí a importância de estar consciente de nossas expectativas e normas, adotar uma abordagem mais analítica para detectar padrões e causalidade, e considerar múltiplas perspectivas e fontes de informação. 

7. UMA MÁQUINA DE TIRAR CONCLUSÕES PRECIPITADAS

Nosso sistema de pensamento rápido (Sistema 1) muitas vezes nos leva a tirar conclusões precipitadas com base em informações limitadas.

Nossos preconceitos e estereótipos podem influenciar nossas conclusões, mesmo quando sabemos que estão errados. A familiaridade e a facilidade de processamento de informações podem levar a conclusões imprecisas e estereotipadas.

O viés de confirmação pode levar a conclusões precipitadas, quando estamos inclinados a acreditar em informações que confirmam nossas crenças pré-existentes e ignorar informações que as contradizem.

8. COMO OS JULGAMENTOS ACONTECEM

Nosso sistema de pensamento rápido (Sistema 1) e nosso sistema de pensamento lento (Sistema 2) trabalham juntos para formar nossos julgamentos, os quais são influenciados por heurísticas mentais, que são atalhos cognitivos que usamos para tomar decisões rapidamente. Exemplo de como essas heurísticas podem levar a erros de julgamento: viés de disponibilidade (julgar a probabilidade de um evento com base em como facilmente podemos lembrar de exemplos dele).

O sistema de pensamento lento pode ser usado para corrigir os erros de julgamento do Sistema 1. Para tal, é importante a reflexão cuidadosa, consideração de múltiplas perspectivas e da busca de evidências antes de chegar a uma conclusão.

9. RESPONDENDO A UMA PERGUNTA MAIS FÁCIL 

Muitas vezes respondemos a perguntas mais fáceis do que as que são realmente feitas a nós. isso pode levar a respostas imprecisas e como podemos ser levados a tomar decisões baseadas em informações irrelevantes. nossas emoções e humores podem afetar nossas respostas e como podemos ser influenciados por perguntas que nos são apresentadas de uma certa maneira.

Podemos ser levados a fazer julgamentos com base em informações que não são relevantes para a pergunta que nos é feita e como podemos ser influenciados por exemplos específicos que são apresentados a nós.

PARTE 2 - HEURÍSTICAS E VIESES

10. A LEI DOS PEQUENOS NÚMEROS

As pessoas tendem a tirar conclusões a partir de amostras pequenas, incluindo nossas próprias experiências pessoais e histórias que ouvimos de outras pessoas.

A Lei dos Grandes Números pode ajudar a corrigir esses erros de julgamento, pois a amostragem aleatória pode levar a estimativas mais precisas de probabilidade e a média de uma grande amostra pode ser um indicador mais confiável do que a média de uma amostra pequena.

Podemos melhorar nossa capacidade de fazer julgamentos precisos, incluindo a importância de buscar informações de fontes confiáveis, examinar amostras maiores e usar dados estatísticos para informar nossas decisões.

11. ÂNCORAS

A mente humana é influenciada por informações que recebemos no início de um processo de tomada de decisão, que podem distorcer nossas estimativas subsequentes.

As âncoras podem influenciar nossos julgamentos, como em um jogo de roleta em que a bola cai em um número específico, e em seguida, os jogadores são mais propensos a acreditar que a bola cairá em torno daquele número no futuro, mesmo que a probabilidade real seja uniforme.

As âncoras podem ser usadas para influenciar as decisões em diferentes áreas, como em processos judiciais e de negociação salarial, onde as primeiras ofertas podem afetar significativamente os resultados finais.

A ancoragem pode ser mitigada através da conscientização de seu impacto, da busca por informações alternativas e da análise de cenários hipotéticos.

As âncoras são uma parte inevitável do processo de tomada de decisão humano, mas é importante estar ciente de seu efeito e como ele pode ser usado para influenciar nossas decisões.
 
12. A CIÊNCIA DA DISPONIBILIDADE
 
As pessoas tendem a avaliar a probabilidade de um evento com base na facilidade com que ele vem à mente. Isso é conhecido como heurística da disponibilidade.

Exemplo: as pessoas tendem a superestimar a frequência de divórcios em suas comunidades com base em casos recentes que podem ter recebido muita atenção da mídia.

A disponibilidade pode ser influenciada por diferentes fatores, como a mídia, as emoções e a familiaridade. Eventos emocionais tendem a ser mais disponíveis em nossa mente, o que pode levar a uma superestimação de sua probabilidade.

A busca por informações e a reflexão crítica podem ajudar a equilibrar a tendência de confiar na disponibilidade. A construção de modelos mentais pode ajudar a reduzir a influência da disponibilidade, permitindo uma análise mais racional e menos emocional dos eventos.

 
13. DISPONIBILIDADE, EMOÇÃO E RISCO
 
A heurística da disponibilidade pode influenciar a maneira como as pessoas percebem o risco em diferentes situações. Ela pode ser influenciada por fatores emocionais, como o medo, a ansiedade e a raiva, e essas emoções podem afetar a maneira como as pessoas avaliam a probabilidade de eventos perigosos ou arriscados. Exemplo: em casos de terrorismo, a mídia tende a destacar eventos raros, mas altamente dramáticos, o que pode levar as pessoas a acreditar que o risco é maior do que realmente é.
 
Da mesma forma, em muitos casos as pessoas são mais propensas a assumir riscos quando estão expostas a informações disponíveis que sugerem que o risco é baixo, mesmo que as informações sejam limitadas ou incompletas.
 
14. A ESPECIALIDADE DE TOM W
 
Kahneman apresenta um estudo de caso sobre um médico que trabalhava em uma sala de emergência e era conhecido por sua habilidade em fazer diagnósticos precisos em situações de alta pressão.

Kahneman explora as razões pelas quais Tom W. era tão habilidoso em seu trabalho, argumentando que sua expertise era baseada em uma combinação de experiência prática, conhecimento teórico e intuição.

Ele discute como a expertise de Tom W. era influenciada pelo "sistema 1" de pensamento, que é responsável por pensamentos automáticos e rápidos, bem como pelo "sistema 2" de pensamento, que é mais analítico e deliberativo.

Kahneman também explora as limitações da expertise de Tom W., sugerindo que ela pode ser afetada por vieses cognitivos, como a tendência de confiar em informações disponíveis e ignorar dados irrelevantes.

Ele conclui que a especialidade de Tom W. é um exemplo de como a experiência e o conhecimento podem levar a um pensamento mais rápido e preciso, mas que a especialidade também tem suas limitações e pode ser afetada por vieses cognitivos.
 
15. LINDA: MENOS É MAIS

Um experimento apresentou aos participantes uma descrição de uma mulher chamada Linda, que era descrita como inteligente, engajada em questões sociais e com forte senso de justiça. Os participantes foram então solicitados a responder a duas perguntas: qual é a probabilidade de Linda ser uma bancária? E qual é a probabilidade de Linda ser uma bancária e também ativista feminista?

Embora a resposta lógica seja que a probabilidade de Linda ser uma bancária é maior do que a probabilidade de ser uma bancária e ativista feminista, a maioria dos participantes do estudo optou pela segunda opção. Isso ocorreu porque a descrição de Linda como uma ativista feminista fazia com que ela parecesse mais característica de um grupo específico, levando as pessoas a confiar em estereótipos e ignorar dados estatísticos.


16. CAUSAS SUPERAM ESTATÍSTICAS
 
Existe uma tendência humana de buscar explicações causais para os eventos (narrativa), em vez de depender apenas de estatísticas. 
 
Uma narrativa é uma história coesa e compreensível que explica um evento ou resultado. As narrativas são importantes porque fornecem uma sensação de coerência e controle, mas muitas vezes são baseadas em poucos exemplos e não levam em conta a incerteza inerente aos eventos.

A heurística da disponibilidade pode levar a erros na construção da narrativa, pois os exemplos mais memoráveis podem ser atípicos ou distorcidos.

A teoria causal pode ser útil para explicar eventos, mas também pode levar a erros, como quando as pessoas atribuem causalidade a eventos aleatórios ou coincidentes.

17. REGRESSÃO À MÉDIA

A regressão à média refere-se ao fato de que, em uma série de medições de uma variável que apresenta algum grau de aleatoriedade, medições extremas tendem a ser seguidas por medições mais próximas da média na próxima vez em que a medição for realizada. Pode levar a conclusões errôneas e ações inadequadas se não for compreendida corretamente.

Aas pessoas tendem a buscar explicações causais para eventos extremos, em vez de considerar a aleatoriedade e a regressão à média. Por isso é importante reconhecer e considerar a aleatoriedade e a incerteza ao tomar decisões e tirar conclusões.
 
18. DOMANDO PREVISÕES INTUITIVAS

As pessoas muitas vezes confiam demais em suas intuições e tomam decisões com base em previsões que não são tão precisas quanto imaginam.

Kahneman apresenta o conceito de "previsibilidade limitada", que significa que as pessoas só podem fazer previsões dentro de um conjunto limitado de circunstâncias. Ele também discute a ideia de que as pessoas muitas vezes fazem previsões com base em exemplos passados que são facilmente acessíveis em suas mentes, o que pode levar a erros de julgamento.
 
PARTE 3 - CONFIANÇA EXCESSIVA
 
19. A ILUSÃO DE COMPREENSÃO
 
Os indivíduos muitas vezes superestimam a profundidade de sua compreensão sobre eventos e fenômenos complexos, e como essa ilusão pode afetar suas decisões e opiniões. As pessoas muitas vezes oferecem respostas simples para problemas complexos. 
 
A ilusão de compreensão é mais provável de ocorrer quando há uma história coerente para explicar o fenômeno, mesmo que essa história seja insuficiente ou enganosa. Ela pode levar as pessoas a serem excessivamente confiantes em suas próprias habilidades e a subestimar a incerteza e a complexidade de muitas situações. 
 
É importante sermos mais conscientes de nossas limitações cognitivas e reconhecer que não podemos compreender completamente todos os aspectos complexos da vida.

20. A ILUSÃO DE VALIDADE
 
As pessoas geralmente superestimam sua capacidade de previsão e tomada de decisão, e como a confiança na própria habilidade pode levar a erros caros. Os tomadores de decisão tendem a se concentrar em informações que confirmam suas hipóteses e ignoram ou desconsideram informações que contradizem suas crenças. Isso leva a decisões baseadas em suposições incorretas e à ilusão de que uma previsão é mais precisa do que realmente é.

21. INTUIÇÕES VERSUS FÓRMULAS
 
Muitas vezes as fórmulas e algoritmos são mais eficazes para tomar decisões do que as intuições humanas. Isso porque quando pessoas tomam decisões com base em sua intuição, muitas vezes são influenciadas por preconceitos e experiências pessoais.

Por outro lado, quando as pessoas utilizam fórmulas e algoritmos baseados em dados objetivos, as decisões tendem a ser mais precisas e confiáveis. Por isso empresas como a Google utilizam algoritmos para contratar funcionários.

Contudo, embora fórmulas e algoritmos possam ser mais confiáveis do que a intuição, eles não são infalíveis. É importante ter cuidado ao confiar cegamente em dados e em modelos matemáticos, pois eles também podem ser influenciados por vieses e limitações dos próprios dados.

Em resumo, cabe a nós encontrar um equilíbrio entre a intuição e o uso de fórmulas e algoritmos baseados em dados objetivos para tomar decisões mais precisas e confiáveis.

22. INTUIÇÃO DE ESPECIALISTA: QUANDO PODEMOS CONFIAR?
 
A intuição de um especialista é frequentemente baseada em seu conhecimento prévio e experiência em determinado assunto, o que pode ser muito valioso em determinadas situações.

No entanto, a intuição de especialistas nem sempre é precisa, pois pode ser afetada por vários vieses cognitivos, como a tendência de se concentrar em informações relevantes, mas ignorar outras importantes, ou a tendência de confiar demais em informações que confirmam suas crenças prévias.

23. A VISÃO DE FORA
É importante adotar uma perspectiva externa para tomadas de decisões e julgamentos mais acurados. Muitas vezes, estamos tão imersos em uma situação ou contexto que acabamos perdendo a objetividade e a capacidade de analisar a situação de forma crítica e ampla.

É necessário aprender a separar a emoção do pensamento racional. Muitas vezes, a empatia excessiva pode acabar prejudicando a tomada de decisões.

O autor apresenta a ideia de que as pessoas tendem a subestimar o impacto que fatores externos têm em seus julgamentos e ações. Ele cita o "Efeito Halo", em que a impressão geral que se tem de uma pessoa influencia a avaliação de suas habilidades em áreas específicas.
 
24. O MOTOR DO CAPITALISMO
 
As pessoas não são completamente racionais em suas decisões financeiras. O comportamento humano é afetado por vieses cognitivos, como o efeito da aversão à perda e o viés de confirmação. 
 
Esses vieses afetam a tomada de decisão dos investidores e levam a uma série de comportamentos irracionais no mercado financeiro.A crença na eficiência do mercado pode levar a uma falta de regulação que aumenta o risco de instabilidade econômica.

Por fim, Kahneman ressalta a importância da compreensão dos comportamentos humanos na economia e na política, e a necessidade de políticas públicas que levem em consideração as limitações da racionalidade humana.

PARTE 4 - ESCOLHAS

25. OS ERROS DE BERNOULLI
 
A teoria do valor esperado (por Daniel Bernoulli) assume que as pessoas são racionais e tomam decisões com base na maximização dos benefícios esperados, mas essa suposição é muitas vezes equivocada. Referida teoria não leva em consideração a aversão ao risco das pessoas, ou seja, sua tendência a evitar perdas. Outrossim, as pessoas tendem a atribuir pesos desproporcionais a eventos extremos, como grandes ganhos ou perdas, e isso pode afetar significativamente suas decisões financeiras.

Portanto, a teoria do valor esperado é útil, mas precisa ser complementada por outras abordagens para entender como as pessoas realmente tomam decisões financeiras.
 
26. TEORIA DA PERSPECTIVA
 
Daniel Kahneman apresenta uma abordagem alternativa à teoria do valor esperado, chamada de "teoria da perspectiva". Essa teoria se baseia na ideia de que as pessoas tomam decisões financeiras de maneira diferente dependendo da forma como as opções são apresentadas a elas.

Kahneman explica que a teoria da perspectiva considera não apenas o valor esperado de uma opção, mas também a forma como as pessoas percebem os ganhos e perdas associados a essa opção. 

O autor também discute o conceito de "efeito moldura", que se refere à forma como a informação é apresentada a uma pessoa pode influenciar sua decisão. Ele explica que as pessoas são mais propensas a assumir riscos quando a informação é apresentada de forma positiva e a evitar riscos quando a informação é apresentada de forma negativa.

27. O EFEITO DOTAÇÃO

As pessoas em valorizam mais os bens que possuem do que aqueles que não possuem. Isso é conhecido como o "efeito da dotação" e é uma das tendências comportamentais mais fundamentais que influenciam nossas decisões econômicas.
 
O efeito dotação é um viés cognitivo que leva as pessoas a colocar um valor maior nos bens que possuem simplesmente porque os possuem. Em virtude dela, as pessoas tendem a exigir mais dinheiro para se separar de um bem que possuem do que o dinheiro que pagariam para adquirir esse mesmo bem
 
O efeito dotação pode ser explicado pela tendência das pessoas em se concentrar mais nas perdas do que nos ganhos. As pessoas podem usá-lo para obter uma vantagem nas negociações. Uma maneira de reduzir o efeito dotação é fazer com que as pessoas considerem a transação a partir de uma perspectiva neutra, sem levar em conta o que elas já possuem.
 
28. EVENTOS RUINS
 
Os seres humanos tendem a ser mais sensíveis a perdas do que a ganhos e que essa tendência afeta a forma como lidamos com eventos ruins.

As pessoas tendem a superestimar o impacto negativo de eventos ruins e a subestimar sua resiliência para lidar com eles. Esquecem que a resiliência é uma das principais características que nos permitem lidar comtais acontecimentos.
 
Indivíduos também tendem a se concentrarem no presente e no imediato ao lidar com eventos ruins, em vez de olhar para o futuro e planejar estrategicamente como lidar com a situação.
 
29. O PADRÃO QUÁDRUPLO
 
O modelo padrão de tomada de decisão, que é baseado em maximizar a utilidade esperada, não é suficiente para lidar com a complexidade do mundo real. O autor sugere que o padrão quádruplo é uma maneira mais eficaz de lidar com a incerteza e a complexidade da tomada de decisão.
 
O "Padrão Quádruplo" é um modelo para a tomada de decisão baseado em quatro etapas.

Primeira etapa: identificar os objetivos e prioridades relevantes para a tomada de decisão. 
 
Segunda etapa: reunir informações relevantes e confiáveis que possam ajudar a informar a decisão. 
 
Terceira etapa: avaliar as alternativas disponíveis e seus potenciais resultados. 
 
Quarta e última etapa: tomar a decisão com base nas informações coletadas e nas avaliações realizadas.
 
30. EVENTOS RAROS
 
A "heurística da disponibilidade" leva um indivíduo a estimar a probabilidade de um evento com base em exemplos disponíveis em sua memória. Em outras palavras, as pessoas a superestimam a probabilidade de eventos raros se eles forem amplamente divulgados na mídia, mesmo que a probabilidade real seja muito baixa.

O "efeito da ancoragem" leva as pessoas a se basearem em suas estimativas em um valor inicial fornecido, mesmo que esse valor seja irrelevante ou aleatório, dubestimando a probabilidade de eventos raros se a ancoragem inicial for baixa.

É importante estar ciente dessas heurísticas e viéses cognitivos ao lidar com eventos raros. Também é necessária a preparação e o planejamento para eventos extremos, mesmo que sua probabilidade seja baixa, com o objetivo de reduzir o impacto desses eventos e aumentar a resiliência das pessoas e organizações.
 
31. POLÍTICAS DE RISCO
 
A "avaliação prospectiva" se refere à forma como as pessoas avaliam os resultados potenciais de uma ação futura.
 
Por causa da já abordada "aversão à perda", tem-se uma abordagem excessivamente cautelosa em relação ao risco, impedindo as pessoas de assumir riscos que poderiam levar a grandes ganhos.

É importante a transparência e a comunicação clara em relação aos riscos envolvidos em uma determinada ação. Muitas vezes as organizações são excessivamente confiantes em suas próprias habilidades de gerenciar o risco e que isso pode levar a decisões arriscadas e a eventos catastróficos.

32. DE OLHO NO PLACAR
 
As pessoas tendem a avaliar a qualidade de uma decisão ou de uma ação com base no resultado final, em vez de considerar os fatores que influenciaram a tomada de decisão. Isso pode levar a uma falta de compreensão sobre as razões pelas quais uma ação foi bem-sucedida ou mal-sucedida.

Segundo o conceito de "sorte do vencedor", existe uma tendência das pessoas de atribuir o sucesso a fatores internos, como habilidade e talento, e o fracasso a fatores externos, como má sorte e circunstâncias fora do controle. Ele destaca que essa tendência pode levar as pessoas a subestimarem o papel da sorte no sucesso e a superestimarem o papel da habilidade.

Kahneman também discute a importância de considerar os processos que levam aos resultados finais, em vez de se concentrar apenas nos resultados em si.
 
33. REVERSÕES
 
A "reversão de tendência" ocorre quando uma tendência ou padrão de comportamento é revertido inesperadamente. Ele explica que as pessoas tendem a subestimar a probabilidade de reversão de tendência e que isso pode levar a previsões imprecisas.

As pessoas são mais propensas a mudar de opinião quando são confrontadas com informações que contradizem suas crenças pessoais, em vez de informações que contradizem as crenças de um grupo ao qual pertencem. Além disso, há maior propensão a mudar de opinião quando se está em um ambiente que incentiva a considerar diferentes pontos de vista.

Embora as reversões possam ser desconcertantes, elas podem ser uma oportunidade para aprender e crescer.
 
34. QUADROS E REALIDADE
 
O autor também discute o conceito de "efeito moldura", que ocorre quando as pessoas respondem de maneira diferente a uma situação, dependendo de como ela é apresentada. Ele apresenta estudos que mostram que a mesma informação pode ser apresentada de maneiras diferentes para influenciar a resposta das pessoas. Por exemplo, uma opção pode ser descrita como "90% eficaz" ou "10% ineficaz", e isso pode levar as pessoas a responder de maneira diferente, mesmo que se refiram à mesma opção.

Assim, a forma como as pessoas constroem narrativas e como isso pode afetar sua percepção da realidade. As pessoas têm uma tendência a criar histórias coesas para explicar eventos passados, mesmo que essas histórias não sejam precisas.

PARTE 5 - DOIS EUS

35. DOIS EUS
 
O sistema 1 é responsável por processar informações de forma rápida e automática, usando atalhos mentais chamados de heurísticas. Essas heurísticas são úteis em muitas situações, mas também podem levar a erros de julgamento e tomada de decisão.

O sistema 2 é responsável por processar informações de forma lenta e deliberativa, usando raciocínio analítico e lógico. Embora este sistema seja mais preciso, também é mais exigente em termos de energia e recursos cognitivos.

O sistema 1 e o sistema 2 interagem entre si. É importante não confiar demais em nossos instintos e heurísticas automáticas, mas também não subestimar a importância do raciocínio lento e deliberativo.
 
36. A VIDA COMO UMA NARRATIVA

Os seres humanos têm uma tendência natural de moldar suas experiências em forma de histórias coerentes, com um começo, meio e fim.

Essa necessidade de estruturar nossas experiências em histórias é fundamental para a nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. Ao construir narrativas, criamos uma sensação de coerência e significado em nossas vidas, e que isso pode ajudar a tornar nossas experiências mais digeríveis e gerenciáveis.

No entanto, Kahneman alerta que nossas narrativas podem ser imprecisas ou mesmo falsas. Nossa memória pode ser influenciada por fatores externos, como sugestões de outras pessoas ou nossas próprias expectativas, e como isso pode levar a uma distorção dos fatos e uma criação de histórias inconsistentes.
 
Nossas narrativas podem afetar nossas emoções e comportamentos, sugerindo que histórias negativas podem nos fazer sentir mais pessimistas e desesperançados, enquanto histórias positivas podem nos fazer sentir mais otimistas e confiantes.

É importante equilibrar nossas necessidades narrativas com uma compreensão precisa dos fatos. Devemos ser críticos em relação às nossas próprias histórias e estar dispostos a revisá-las à luz de novas informações e perspectivas.
 
37. BEM-ESTAR EXPERIMENTADO
 
O bem-estar experienciado é composto por dois componentes: a emoção momentânea e a avaliação cognitiva da vida como um todo. As emoções momentâneas são afetadas por experiências imediatas, como eventos positivos ou negativos, enquanto a avaliação cognitiva é uma visão geral de como as pessoas avaliam suas vidas como um todo.

Impende entender a diferença entre esses dois componentes de bem-estar para compreendermos melhor a felicidade das pessoas. Embora eventos específicos possam trazer emoções momentâneas positivas, eles têm pouco impacto na avaliação cognitiva da vida como um todo.

As pessoas usam diferentes estratégias para maximizar seu bem-estar. Algumas buscam experiências positivas momentâneas, enquanto outras se concentram em construir relacionamentos e atividades que fornecem uma sensação de significado e propósito em suas vidas.

Diferentes fatores afetam o bem-estar experienciado, como a riqueza, o sucesso profissional e as relações pessoais. Embora esses fatores possam ter um impacto significativo nas emoções momentâneas das pessoas, eles têm pouco impacto na avaliação cognitiva da vida como um todo.
 
38. PENSANDO SOBRE A VIDA
 
As pessoas tendem a ter uma visão excessivamente otimista do futuro, acreditando que terão mais controle sobre eventos do que realmente têm. Isso pode levar a escolhas ruins em termos de finanças, saúde e outros aspectos da vida.

Existe uma diferença entre a experiência e a memória de eventos passados. Embora a experiência do momento presente seja importante, as memórias dos eventos passados são fundamentais para a avaliação da vida como um todo. As memórias tendem a ser moldadas por eventos salientes e extremos, o que pode levar a avaliações distorcidas da vida como um todo.
 
A tomada de decisões é frequentemente influenciada por crenças e valores subjacentes. As pessoas devem tentar ser mais conscientes de seus valores e metas ao tomar decisões importantes em suas vidas.

É importante encontrar um equilíbrio entre o planejamento futuro e o desfrute do momento presente, buscando atividades significativas.

CONCLUSÕES
 
 É importante compreender como o nosso pensamento funciona e reconhecer a influência dos vieses cognitivos em nossas decisões e julgamentos. Os vieses não são apenas falhas no nosso pensamento, mas são características naturais da mente humana que nos ajudam a lidar com a complexidade do mundo.
 
Destaque-se a importância do aprendizado a partir das experiências de outras pessoas, em contraposição à ideia de que é preciso cometer erros para aprender. Podemos aprender muito com a observação de como os outros lidam com situações semelhantes às que enfrentamos.

Também é imprescindível o diálogo entre as diferentes disciplinas científicas, como a psicologia, a economia e a neurociência, para compreender de maneira mais ampla como funciona a mente humana. Apesar de a mente ser complexa e multifacetada, o conhecimento adquirido até o momento já pode ser útil para melhorarmos nossas decisões, nossas relações e nossas vidas de maneira geral.