domingo, 25 de janeiro de 2015

NÃO SOU OBRIGADO





Eu já escutei, algumas vezes, pessoas dizendo que a minha geração se envolve muito facilmente. Eu discordo.
Você pode dizer: "Ah, mas a geração nascida nos anos 80 passou a adolescência 'ficando'. Hoje todo mundo já larga namorando sério."
De fato, hoje as pessoas assumem namoro facilmente. O problema é que elas abrem mão com a mesma facilidade com que assumem.  Se na geração anterior havia uma delimitação clara entre 'ficar' e namorar, hoje as duas coisas se confundem em uma/nenhuma.
Já cansei de ver fulaninho trocar status de relacionamento depois de dar dois beijos na sicraninha. Então começam as dedicatórias no facebook, fotos no instagram e tweets apaixonados. O problema é que a minha geração quer um troféu pra mostrar na rede social, e não um ser humano de carne e osso: querem alguém que "agregue valor" ao seu ego. 
Como sabemos, contudo, não existem pessoas perfeitas. Assim, depois das apaixonadas primeiras semanas de namoro, começam a aparecer os defeitinhos. Uma pessoa realmente comprometida teria a coragem de lidar com os problemas e fortalecer o relacionamento. Hoje, porém, ao primeiro sinal de defeito do parceiro, o sujeito já começa fazer o download do Tinder no seu  smartphone. 
O raciocínio é o seguinte: eu posso contatar 1001 pessoas pelo facebook, twitter, tinder, whatsapp + eu tenho milhares de possibilidades, mas mesmo assim eu abri mão delas pra investir meu precioso tempo em você = faça o favor de não pisar na bola, pois eu não sou obrigado a lidar com as suas imperfeições, e não vou hesitar em seguir em frente num piscar de olhos caso você não continue sendo este príncipe/princesa utópico(a) sobre o qual escrevi no meu facebook, quando fui legendar a nossa foto.
Soma-se a isto a seguinte lógica: eu obviamente sou um poço de relevância, afinal TODOS os meus seguidores/amigos/contatos estão prestando plena atenção em tudo que eu escrevo, digo, canto, etc. Por isso, é muito importante que você não fira o meu ego do tamanho de um Zeppelin e não me obrigue a fazer papel de trouxa na frente de todos os meus súditos admiradores.
Em suma: nos perdemos entre as nossas possibilidades (aquelas que nunca vamos explorar, afinal estamos muito ocupados colecionando ainda mais possibilidades). Somos covardes, pois tememos "fazer papel de trouxa" a ponto de começar relacionamentos já imaginando como eles vão acabar. Vivemos pelas aparências, e não pelas experiências. Nos entregamos fisicamente a todos, mas não estabelecemos conexões emocionais com ninguém. Nunca dispomos de tantos meios para acabar com a solidão, mas ao mesmo tempo, nunca estivemos tão sozinhos.