segunda-feira, 11 de maio de 2015

POLUIÇÃO

Era uma metrópole como qualquer outra. Seu céu há muito tinha sido escondido por uma camada grossa de fumaça cinzenta. Havia também os edifícios, com suas fachadas desgastadas e pichações cheias de ódio. Por entre os edifícios os carros fluíam lentamente e se amontoavam. As ruas eram tomadas pelo coro de buzinas, que se somava ao som dos estouros de escapamento e marteladas vindas das construções. Ladeando as ruas estavam as calçadas, sempre cheias de pedestres, guimbas de cigarro e embalagens plásticas. 
João estava voltando de sua primeira viajem. Nunca tinha abandonado a metrópole antes, de modo que, por estar habituado a tudo, nunca tinha questionado a maneira como as coisas funcionavam. Contudo, aquilo mudou assim que ele regressou à sua cidade. 
Tão logo desceu do taxi, a primeira coisa que viu foi uma chaminé industrial cuspindo nuvens e mais nuvens negras de fumaça. Contrariado, João continuou andando e percebeu que já se sentia cansado e ofegante. Seus olhos ardiam e não conseguiam enxergar através da neblina fedorenta que se espalhava por todo canto. Não tardaria a perceber que aquilo não era neblina, mas sim fumaça, desta vez brotando dos escapamentos dos carros. Não fosse isso suficiente, havia também a barulheira incessante, que logo perturbou o rapaz e fez com que ele apertasse o passo para chegar logo ao seu apartamento. 
Foi só ao sentar no sofá da sala que João viu que havia um papel amassado grudado ao seu sapato. Intrigado, ele estendeu a mão, pegou o papel, desamassou-o e leu a mensagem: "vá se danar".

É preciso parar com esse hábito de ver a poluição como um monstro de sete cabeças. Quando fazemos isso, simplesmente nos conformamos com o problema e aguardamos uma solução milagrosa (provavelmente em forma de tecnologia). 
Ocorre que não precisamos esperar pela tecnologia perfeita. Já é possível que nossa rotina seja positivamente ajustada. Boa parte destas mudanças vem da educação, que deve conscientizar as pessoas sobre os malefícios de jogar lixo nas ruas, contribuir para a poluição sonora e danificar o patrimônio público ou propriedades privadas. Há também uma resposta tecnológica: os carros elétricos, que sabidamente poluem menos que outros veículos. Por fim temos a necessidade de regulamentação da atividade industrial, que continua optando pela forma mais barata de produção, pois aparentemente o bolso do industrial é mais relevante que os pulmões de populações inteiras. 
Portanto, a mudança do status atual depende muito de iniciativa individual, e isso não é novidade. A novidade é que essa iniciativa é constantemente tratada como grande sacrifício. Em outras palavras, passamos a enxergar nossos atos nocivos como insubstituíveis e indispensáveis à sobrevivência, o que é um equívoco grande e que ainda nos prejudicará muito.

sábado, 9 de maio de 2015

5 FILÓSOFOS

Derrida: afirmava que muito do que pensamos se perde quando restringimos este pensamento por meio da verbalização.
Hume: entendia que nós não entramos em contato direto com o mundo ao nosso redor, mas sim o experienciamos por meio de nossos sentidos; e que também não percebemos a causalidade, apenas a imaginamos ao observar dois acontecimentos em sequencia.
Maquiavel: era realista e admitia a existência de características humanas que nós normalmente tendemos a omitir, mas usava esse realismo como uma desculpa para legitimar o fato de ele dar maus conselhos. Ex: "para conseguir isso você tem que fazer algo horrível, mas a sociedade é horrível, então tudo bem".
Marx: alegava que a história da humanidade é marcada pela luta de classes; entendia que a oferta e a procura deveriam dar lugar à capacidade (de quem produz) e necessidade (de quem adquire); defendia a tomada dos meios de produção pelo Estado, que sairia de cena após equalizar situação; e lutava pelo desaparecimento das classes sociais e da mais valia.
Heidegger: Desejava trazer a filosofia de volta ao momento pré-socrático, quando as indagações filosóficas giravam em torno do "ser". Condenava os fúteis e nada autênticos comportamentos de massa (exceto os germânicos). Acreditava que a única língua na qual poder-se-ia filosofar propriamente era o alemão, posto que derivada do grego (e não do morto Latim). 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

MONTAGE OF HECK - Opinião pessoal e minhas conclusões



Hoje assisti o documentário sobre a vida do Kurt Cobain, dirigido por Brett Morgen e produzido pela Frances Cobain. 
É bastante surpreendente que existam tantos registros audiovisuais de alguém. É como se o Kurt tivesse estrelado todo o curto filme da sua vida, mesmo nos momentos em que ele estava de saco cheio de ser o centro das atenções.
Me emocionei mais ao assistir as imagens da infância dele. Talvez tenha me sentido assim porque assisti tudo com a consciência de que aquela felicidade e receptividade não durariam muito tempo.
Um dos aspectos da vida dele que ficou bem claro foi a transição, de bebê super bajulado pela família inteira, para adolescente constantemente enxotado pelos mesmos familiares.
As histórias sobre a juventude do Cobain, assim como sua ambição e  aversão à humilhação, não foram recebidas com surpresa. Boa parte do que é relatado no documentário já era tratado no "Heavier than heaven" e nos "Journals", obras que já li.
Uma imagem que marcou foi a do Kurt segurando a Frances, que estava prestes a receber seu primeiro corte de cabelo. Durante o evento, Courtney diz ao marido que ele não deveria se comportar como um drogado na frente da filha, e ele contra-argumenta afirmando que está cansado. 
Mas a imagem que mais me marcou foi a da Courtney sentada na banheira, segurando a Frances no colo enquanto Kurt filmava as duas. Com ares de surpresa ela disse algo do tipo "I kind of feel happy right now!" (Eu meio que me sinto feliz agora!). É quase como se aquilo fosse incomum, ou como se ela quisesse informar ou convencer o Kurt disso. Mas isso, óbvio, é só a minha percepção do que aconteceu.
Falando em percepção, a minha impressão final foi a de que Kurt manteve, até o fim de sua vida, um pouco da infantilidade (Tracy e Courtney que o digam) e hiperatividade que o caracterizavam como criança. Ele me pareceu ser um supersensível e intenso jovem que trabalhou muito para conquistar algo, mas quando chegou lá, descobriu que era uma bosta e ficou preso entre jogar tudo no lixo ou continuar vivo na memória das pessoas. Lamentavelmente, foi através do suicídio que ele conciliou esses dois caminhos.

domingo, 3 de maio de 2015

ENCALHEI NO MEU IDIOMA - #Paragrafão

De acordo com a wikipédia, pensamentos são "reações representativas causadas por estímulos de reações químicas internas ou fatores ambientais externos". Ok, mas que meio devemos utilizar para transformar essas abstratas reações representativas em algo definido e compreensível? A linguagem (corporal, verbal, simbólica, escrita, e até a vozinha que fica narrando os acontecimentos dentro da nossa cabeça), claro! Mas será que a linguagem é realmente uma ferramenta efetiva? Quantas reações representativas foram ignoradas simplesmente porque não puderam ser traduzidas em palavras? Quantas vezes modelamos as nossas reações representativas para que elas coubessem numa explicação verbal? E quantas vezes essas reações representativas, já previamente modeladas ao serem cuspidas para o mundo exterior, foram remodeladas quando escutadas e (talvez equivocadamente) interpretadas pelo receptor da cuspidela?  E será que verbalizar precariamente estas reações representativas não é mentir para nós mesmos quanto à amplitude delas? Será que a linguagem não é uma ferramenta fadada a tornar as coisas simplistas? É como se estivéssemos destinados a permanecer enclausurados em nossas próprias cabeças! A nossa lógica de pensamentos está intimamente ligada/limitada pelo idioma que falamos. Tudo bem que, segundo o compêndio Ethnologue, existem 6.912 idiomas em todo o mundo (além da possibilidade de centenas de outros idiomas não catalogados) e que cada um deles tem milhares de palavras que, por vezes, sequer podem ser traduzidas para outros idiomas. Contudo, a maioria gritante das pessoas só sabe falar uma ou duas línguas. Por isso, quando for abrir a boca para comentar as esquisitices de outro povo, ou quando for se gabar de sua notável inteligência, lembre-se: você e eu somos só criaturinhas medíocres encalhadas no(s) próprio(s) idioma(s).