Era uma metrópole como qualquer outra. Seu céu há muito tinha sido escondido por uma camada grossa de fumaça cinzenta. Havia também os edifícios, com suas fachadas desgastadas e pichações cheias de ódio. Por entre os edifícios os carros fluíam lentamente e se amontoavam. As ruas eram tomadas pelo coro de buzinas, que se somava ao som dos estouros de escapamento e marteladas vindas das construções. Ladeando as ruas estavam as calçadas, sempre cheias de pedestres, guimbas de cigarro e embalagens plásticas.
João estava voltando de sua primeira viajem. Nunca tinha abandonado a metrópole antes, de modo que, por estar habituado a tudo, nunca tinha questionado a maneira como as coisas funcionavam. Contudo, aquilo mudou assim que ele regressou à sua cidade.
Tão logo desceu do taxi, a primeira coisa que viu foi uma chaminé industrial cuspindo nuvens e mais nuvens negras de fumaça. Contrariado, João continuou andando e percebeu que já se sentia cansado e ofegante. Seus olhos ardiam e não conseguiam enxergar através da neblina fedorenta que se espalhava por todo canto. Não tardaria a perceber que aquilo não era neblina, mas sim fumaça, desta vez brotando dos escapamentos dos carros. Não fosse isso suficiente, havia também a barulheira incessante, que logo perturbou o rapaz e fez com que ele apertasse o passo para chegar logo ao seu apartamento.
Foi só ao sentar no sofá da sala que João viu que havia um papel amassado grudado ao seu sapato. Intrigado, ele estendeu a mão, pegou o papel, desamassou-o e leu a mensagem: "vá se danar".
É preciso parar com esse hábito de ver a poluição como um monstro de sete cabeças. Quando fazemos isso, simplesmente nos conformamos com o problema e aguardamos uma solução milagrosa (provavelmente em forma de tecnologia).
Ocorre que não precisamos esperar pela tecnologia perfeita. Já é possível que nossa rotina seja positivamente ajustada. Boa parte destas mudanças vem da educação, que deve conscientizar as pessoas sobre os malefícios de jogar lixo nas ruas, contribuir para a poluição sonora e danificar o patrimônio público ou propriedades privadas. Há também uma resposta tecnológica: os carros elétricos, que sabidamente poluem menos que outros veículos. Por fim temos a necessidade de regulamentação da atividade industrial, que continua optando pela forma mais barata de produção, pois aparentemente o bolso do industrial é mais relevante que os pulmões de populações inteiras.
Portanto, a mudança do status atual depende muito de iniciativa individual, e isso não é novidade. A novidade é que essa iniciativa é constantemente tratada como grande sacrifício. Em outras palavras, passamos a enxergar nossos atos nocivos como insubstituíveis e indispensáveis à sobrevivência, o que é um equívoco grande e que ainda nos prejudicará muito.