domingo, 29 de janeiro de 2017

Resumo do livro "Desvendando o Egito", de Sérgio Pereira Couto



TUTANCÂMON é lembrado em razão de seu fabuloso tesouro. Veio de um período conturbado da história do Egito. Trata-se de uma transição inédita na história da Antigüidade de um período em que o politeísmo deu lugar à primeira menção histórica de monoteísmo. Filho de Akhenaton - unificar dos deuses - e Kia - rainha secundária, subiu ao trono com 8 anos de idade. Tutancâmon e sua irmã Ankhesenamon sobreviveram à matança que ocorrera Amarna e foram levados a Tebas a fim de se casarem e se tornarem reis. Ele tinha na época nove anos e ela, onze. Por causa da pouca idade do casal real, especula-se que os verdadeiros governantes tenham sido Ay (pai de Nefertiti) e Horemheb (general do exército real). Tut faleceu com 19 anos em 1324 a.C. Ao que tudo indica, seu túmulo ainda não estava pronto, então tiveram que apelar para um menor que, segundo alguns, teria sido projetado na verdade para algum alto funcionário. O fato é que foi enterrado por lá e esquecido após a tentativa de roubo pelos ladrões de túmulos, que teriam sido pegos no ato pelos guardas da necrópole. A rainha não viu outra alternativa a não ser se casar com Ay. Ambos morreram misteriosamente e Horemheb - herói de guerra -  se tornou faraó com apoio do povo. Foi ele quem roubou muitos dos monumentos de Tutancâmon e substituiu o nome dele pelo seu.
SOCIEDADE. A sociedade egípcia estava dividida em quatro grandes classes: o faraó ficava no topo; logo abaixo vinham os nobres e os funcionários palacianos (sacerdotes, escribas e oficiais militares); depois vinham os mercadores, artesãos, operários e camponeses; e por fim os escravos, que eram conquistados em guerras ou ficavam naquela posição por não terem como pagar os impostos. Faraó (termo que significa “casa grande”) era o senhor do Egito. Tudo que lá havia era de sua propriedade. Era um Deus encarnado. O luxo do faraó era sustentado pelo camponês que era obrigado a repassar um excedente de sua produção a ele. Foram um dos primeiros povos a fazer uso de uma escrita elaborada, conhecer ciências como a Medicina, a Matemática e a Astronomia, além de conseguir reaproveitar regiões desérticas. Nosso atual sistema de calendário, com 365 dias por ano, também foi uma invenção dos antigos egípcios. Eles também dividiam o ano em 12 meses, mas com cinco dias a mais de festa ao final de cada período. O egito faraônico acabou quando a rainha Cleópatra morreu, tendo o país passado a ser uma mera província do Império Romano nas mãos de Otávio César (ou Augusto).
PERÍODOS. O período arcaico se inicia com a primeira unificação do país sob o faraó lendário Menés.  Ainda não é bem um país quando começa a tradição faraônica.  Aqui surgiu o papiro. Os faraós começaram a ser enterrados em mastabas [linkar imagem]. No fim da Segunda Dinastia, dois reis brigaram pelo trono e provocaram uma divisão do reino. Surgiu em seguida o Antigo Império, em que o governo havia evoluído para o formato da teocracia e o faraó passou a reinar absoluto. O Egito era dividido em nomos (regiões administrativas) governados por nomarcas ligados ao faraó por laço de sangue. Uma das primeiras pirâmides é a Pirâmide de Degraus, construída em Saqqara pelo faraó da Terceira Dinastia Djoser . Na Dinastia seguinte, foram construídas as Pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos. Na Quinta Dinastia, as pirâmides já tinham um tamanho menor. Na Sexta Dinastia, os avanços na Arquitetura, Escultura, Pintura, Navegação, Medicina e Astronomia apareceram com força total. Foi neste período que apareceu o calendário de 365 dias. Na Sétima Dinastia, começou também o enfraquecimento do poder faraônico. Pouco depois, o país passaria por uma seca terrível e a fome assolaria tudo e todos. Esse período foi da Sétima até a Décima Dinastia. Nesta última, os nomarcas faziam o que podiam para aplacar a fome do povo e os reis que estavam em Mênfis não eram reconhecidos como faraós fora de sua cidade. Foi quando surgiu uma nova divisão entre Alto e Baixo Egito. Quando a Décima Primeira Dinastia foi fundada pelo faraó Mentuhotep, foi reunificado o país e Tebas se tornou capital. Aqui também começou o culto a  Amon, a entidade da criação. Terminou por ser fundido com Rá. O faraó passou novamente a ter o poder reconhecido, mas a força dos nomarcas foi mantida e alguns chegaram mesmo a ter seus próprios exércitos. Na Décima Primeira Dinastia  a Arte e a Arquitetura passaram por um novo período de crescimento. Na Décima Quinta Dinastia, os hicsos se estabeleceram no poder do Baixo Egito para depois dominarem também o Alto Egito; e introduziram objetos como o carro de guerra puxado por bois e a utilização de cobre na confecção de armas, tear vertical, instrumentos musicais e novos alimentos como a azeitona e a romã.  Amósis expulsou os hicsos e fundou a Décima Oitava Dinastia. Tirou o poder dos nomarcas e tornou o Egito uma potência imperialista. Foi neste período que governaram alguns dos nomes mais conhecidos da história egípcia, como a rainha Hatshepsut, Tutancâmon e Ramsés II. Depois da morte de Ramsés XI, iniciou-se um período marcado pela decadência, e o governo caiu nas mãos de diversos povos (assírios, etíopes, babilônios, persas etc.). Somente quando Alexandre, o Grande, conquistou o país é que houve um período de estabilidade. Algum tempo depois surgiu a Dinastia Ptolomaica, que seria a última Dinastia faraônica. Alexandre ordenou a construção da cidade de Alexandria, que reunia a maior coleção de manuscritos do mundo e possuía um farol que foi uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. 
FARAÓS. Menés ou Meni é o lendário primeiro faraó da Primeira Dinastia. fundou Mênfis e teria criado a cidade conhecida como Crocodilópolis. A ele é atribuído o estabelecimento do costume para a realeza da criação de templos para os deuses egípcios. Djoser foi modelo da estátua de calcário mais velha encontrada em solo egípcio. Sua maior contribuição artística e cultural foi a construção de sua famosa Pirâmide de Degraus. Foi o primeiro faraó a ordenar a construção de uma pirâmide para que fossem sepultados tanto o seu corpo quanto o de sua família. A idéia era formar uma espécie de escada para que o espírito do faraó ascendesse aos céus. Quéops (Khufu no original egípcio)  criou a Grande Pirâmide de Gizé (maior obra da Antiguidade). Quase nada se sabe sobre sua vida, nem mesmo se tem certeza de que sua múmia um dia esteve na pirâmide. Tornou-se faraó com apenas 20 anos e reinou por cerca de 23. Era filho de Snefru e foi lembrado como um faraó cruel e sem piedade. Quéfren pode ter sido irmão ou filho de Quéops. Sua pirâmide, por ficar num lugar um pouco mais alto que a de Quéops, passa a falsa impressão de que é a maior. Próximo da edificação há ainda a Esfinge, cujo rosto é, para os estudiosos o de Quéfren, o templo mortuário do faraó. Menkauré (ou Menkaura) é o autor da terceira e última das pirâmides de Gizé. Era filho de Quéfren e da rainha Khamerernebti I. Foi casado com sua irmã, Khamerernebti II e teve outras duas esposas. Sua pirâmide é menor que as vizinhas e foi revestida até um terço da sua altura com um material mais nobre, o granito de Assuã. No seu interior foi encontrado já na época moderna um sarcófago que foi enviado a Londres, mas o barco que o transportava naufragou quando circundava a costa de Portugal. Hatshepsut foi a rainha que se fez passar por faraó e teve sua múmia recentemente descoberta por causa de um dente cujo DNA a identificou. Seu reinado durou cerca de 22 anos e correspondeu a uma era de prosperidade econômica e paz. Era a filha mais velha do faraó Tutmés I e da rainha Ahmose. Quando o rei morreu houve um impasse. O herdeiro, Tutmés III, tinha apenas cinco anos e não podia assumir o trono. A outra candidata ao cargo era Neferu-Rá, que também não podia assumir o trono, já que era uma mulher. Foi então que Hatshepsut tomou o cargo para si por meio do golpe que a trasformou em faraó. A nova regente declarou-se “Hórus Feminina”. Em algumas estátuas é possível notar o uso de uma falsa barba cerimonial, que denunciaria o fato de se tratar de uma mulher. Para legitimar a sua posição, ela usou a influência dos sacerdotes de Amon para divulgar um relato que a tornava filha do deus Amon-Rá. Ela logo tratou de terminar as obras inacabadas e para isso contou com a ajuda de Senmut, um arquiteto que também foi seu amante. Mesmo depois que Tutmés III se tornou adulto ela continuou a reinar. Seu sarcófago foi posto no Vale dos Reis, como o de um legítimo governante homem, ao lado do túmulo de seu pai, Tutmés I. Teria morrido com 37 anos. Ramsés II teve o reinado mais prestigioso da história egípcia pelos aspectos econômico, administrativo, cultural e militar. Era filho do faraó Seti I e da rainha Touya. Acredita-se que pelo menos dez anos antes da morte de Seti I, Ramsés já era casado com pelo menos duas esposas, Nefertari (sua predileta) e Isitnefert. Nefertari possui o túmulo mais famoso do Vale das Rainhas e deu à luz o primeiro filho de Ramsés, Amenhotep, além de outros três filhos e duas filhas. De sua união com várias mulheres, teriam sido gerados no total mais de 150 filhos. Construiu alguns dos monumentos mais belos de todo o Egito, entre eles o templo de Abu Simbel.
PIRÂMIDES. A Grande Pirâmide, do faraó Khufu, é a única das Sete Maravilhas do Mundo Antigo ainda em pé e que resiste majestosa ao passar do tempo. Apesar de os acadêmicos afirmarem com todas as letras que as pirâmides eram túmulos, ninguém pôde confirmar esse fato, já que em nenhuma delas havia um único sinal da presença de uma múmia ou dos tesouros que lá deveriam estar. Hoje em dia são cerca de oitenta pirâmides sobreviventes. DjoserFoi sob o controle da Terceira Dinastia que o Egito viveu seu período mais áureo. Aqui o túmulo também se tornou um símbolo da divindade do faraó, de sua sobrevivência após a morte terrena e de seu poder celestial que ia além da morte e que beneficiaria o país inteiro. É aí que entra a figura lendária de Imhotep, arquiteto de Djoser: ele concebeu a mastaba para seu rei, que depois transformou numa série de mastabas uma em cima da outra, formando a pirâmide de degraus. Abaixo da Pirâmide está uma câmara mortuária, um conjunto de passagens e pequenas câmaras usadas para armazenar o equipamento funerário e para o sepultamento dos membros da família real. A câmara mortuária está no fundo de um poço de sete metros de lado com 28 metros de profundidade. Pirâmides de Snefru:  primeiro faraó da Quarta Dinastia, teve três pirâmides. Em sua época as pirâmides assumiram sua forma final como expressão de uma importância crescente dada ao culto solar associado com o culto ao faraó. Com a mudança religiosa, o conceito de Imhotep de uma escada celestial não era mais necessário, surgindo assim a face lisa da pirâmide como um reflexo dos raios solares na pedra.Após Djoser, os egípcios tentaram ainda construir uma nova Pirâmide de Degraus, que terminou ruindo e foi abandonada. A Pirâmide de Meidum é um estágio intermediário entre a forma de degraus e as pirâmides de Gizé. Além dos andares originais, acrescentou-se nas paredes exteriores um revestimento de calcário, o que deu uma certa forma perfeita. Mas foi esse mesmo revestimento que terminou por ruir, o que deu à pirâmide seu atual aspecto de torre quadrangular. Aparentemente os engenheiros abandonaram o projeto da Pirâmide de Meidum e se lançaram na construção de uma nova, desta vez em Dashur. Foi chamada de Pirâmide Vermelha por causa da cor rubro-clara de sua superfície de granito.É considerada a primeira com lados lisos do mundo. A terceira pirâmide atribuída ao faraó é a chamada Pirâmide Curvada. Durante sua construção os engenheiros mudaram o ângulo de inclinação abruptamente, e teoriza-se que a inclinação foi causada pela necessidade de terminar a pirâmide mais rapidamente, talvez devido à súbita morte do rei. Pirâmides de Gizé. Para a Grande Pirâmide foi necessária uma força de trabalho de cerca de 100 mil pessoas livres durante 20 anos. Sua altura original era de 146,6 metros, mas hoje mede 137,16 metros, uma vez que falta parte do seu topo e seu revestimento. Há uma hipótese vigente para a origem dos 2.600.000 blocos que formam a pirâmide: eles teriam sido recortados das pedreiras, lapidados e transportados em barcos pelo rio Nilo, além de colocados com precisão milimétrica com o uso de uma tecnologia hoje perdida. A pirâmide de Khafré atualmente tem 143 metros de altura, possui paredes menos íngremes que as da pirâmide de Khufu, além de ter restos do revestimento de pedra calcária e granito vermelho, que a faziam brilhar com o sol. Perto dela há a Esfinge, cujo rosto pensa-se ser uma reprodução de Khafré. Como na Grande Pirâmide, não há nenhum sinal de múmia. Finalmente a Pirâmide de Menkauré, a menor de todas, foi terminada às pressas e usou-se material de qualidade inferior às demais pirâmides. Sua altura original era de 66,44 metros, hoje reduzida a 62,18 metros. 
HIERÓGLIFOS. O termo é uma junção de duas palavras gregas, hieros (sagrado) e glyphein (gravar). Durante muito tempo (a escrita) foi construída por mil hieróglifos, representando pessoas, animais, plantas, objetos estilizados, etc. Seu número só atingiu milhares na época da decadência. Sua invenção era atribuída a Toth, o deus da sabedoria. Havia pelo menos outras duas formas de escrita, além dos hieróglifos. A primeira era uma forma mais simples, que se utilizava de versões mais abreviadas dos mesmo sinais, que foi chamada de escrita hierática. Era geralmente gravada em papiros, madeira ou couro. A segunda forma era composta por sinais ainda mais simplificados e era usada em cartas, registros e documentos em papiros, ou seja, tudo que envolvia uma comunicação do dia-a-dia. Era a chamada escrita demótica. No início, os egípcios usavam pictogravuras, ou seja, retratavam o que viam por meio de objetos. Os nomes dos reis tinham sua representação própria. Por exemplo, o nome do mítico rei Narmer (ou Menés) é representado por um peixe (em egípcio antigo, “nar”) e por um buril (“mar”).Na língua oral, boca é “ra”. Assim o som era representado por uma boca. Era possível compor um alfabeto egípcio com 24 caracteres com a ajuda desses sinais fonéticos, o que permitia a composição de qualquer palavra egípcia. Sempre que falta uma vogal na leitura de uma palavra, completa-se com a letra e. A escrita não apresenta espaços entre as palavras e frases, não tempontuação e é lida da direita para a esquerda ou no sentido inverso, ou mesmo em colunas. A direção da leitura é dada por sinais que representam humanos ou animais. A famosa Pedra de Rosetta, hoje parte do acervo do British Museum, mostra claramente que seria difícil decifrar a escrita egípcia sem sua ajuda. Os hieróglifos são considerados pela maioria dos historiadores como a mais antiga forma de escrita no mundo. Foi usado durante 3.500 anos. Quando a Pedra de Rosetta foi finalmente encontrada, em agosto de 1799 por um oficial das tropas francesas chamado Bouchard nas proximidades da cidade de Rosetta (em árabe, Rachid), próxima à margem oeste do Nilo, o acontecimento chamou a atenção do mundo inteiro. Era praticamente a primeira vez que se falava na existência de uma peça do Antigo Egito que era bilíngüe. Foi a partir da pedra que finalmente começaram a sentir que podiam recuperar a antiga sabedoria egípcia.
MÚMIAS. Os livros de egiptologia mais conhecidos definem que uma múmia bem produzida deveria ser “leve como uma casca de ovo e dura como uma estátua”. A mumificação teria começado ainda nos primórdios do Egito, quando os cadáveres eram enterrados diretamente na areia do deserto que, por ser muito porosa e estar num clima muito quente e seco, causou a mumificação natural de alguns corpos. Esta areia drena os líquidos do corpo, deixando-o seco e "à prova de bactéria". A principal crença dos egípcios era a de que o corpo precisava ser conservado após a morte porque, sem ele, era impossível alcançar a imortalidade, pois se acreditava que a força vital (kha) permanecia na múmia. A mumificação às vezes era feita às pressas por causa dos aromas largados pela múmia, o que levou alguns egípcios a esquecer instrumentos dentro de seus "pacientes".  Segundo Heródoto, a maneira mais nobre é começar por extrair o cérebro pelas narinas, com o auxílio de um gancho de ferro. Em seguida, com uma faca de pedra da Etiópia, fazem uma incisão no flanco do defunto, pela qual retiram os intestinos. Limpam a cavidade abdominal e lavam-na com vinho de palmeira, e salpicam-na com perfumes moídos. Depois enchem o ventre com uma mistura composta de mirra pura, canela e outros aromas, e costuram-na.” Em seguida, o cadáver recebia um banho de natrão em que permanecia por 70 dias. Ao término desse período, o corpo é novamente lavado e envolto em faixas de pano revestidas de cera que levavam uma camada de resina, para se fazer de cola. Ao término do trabalho, os parentes retomavam a posse do cadáver e o inseriam no sarcófago. O mesmo era então levado para o local do túmulo e, uma vez lá, era realizada a chamada Cerimônia de Abertura da Boca, quando um sacerdote “abria” magicamente a boca da múmia para que esta pudesse falar e se defender perante o tribunal de Osíris, durante seu julgamento. No túmulo também eram encontrados os 4 vasos de canopos, onde os órgãos  (fígado, estômago, intestinos e pulmões) enfaixados individualmente eram depositados. O coração era devolvido à múmia, e o cérebro tinha pouco importância(!). Heródoto registrou um outro método em que o corpo recebe uma lavagem de óleo de cedro, que dissolve os intestinos; e depois é dissecado por meios químicos durante cerca de 52 dias. 
ARTE. As pinturas retratavam acontecimentos e suas cores tinham significados próprios. O Preto era associado à morte, mas também podia assumir um aspecto de fertilidade e regeneração (graças à lama preta às margens do Nilo); era usado para retratar sobrancelhas, perucas, olhos e bocas. O Branco simbolizava a pureza e a verdade; era utilizado nas vestes dos sacerdotes e objetos rituais, casas, flores e templos. O Vermelho retratava o poder, a sexualidade e a energia, mas também era associado ao maléfico Seth; usado nas representações do deserto. Amarelo era associado à eternidade por ser a cor do Sol e do ouro; usado nos objetos destinados aos deuses e itens funerários do faraó. Verde simbolizava a regeneração e a vida. O Azul era cor com que se retratava o céu e o rio Nilo. O profissional do desenho tinha necessariamente que seguir as regras e nunca assinava sua obra. O artista, justamente por mexer com representações sagradas de deuses e faraós, era supostamente bem visto na sociedade egípcia. Os trabalhos eram feitos em oficinas, onde se reuniam executores e mestres de diferentes vertentes artísticas juntamente com escultores, pintores, carpinteiros e até mesmo embalsamadores, que se inteiravam das representações sagradas para realizarem seus trabalhos junto dos corpos que cuidavam. Os trabalhos, inclusive, não eram feitos em unidades, mas sim em série.
MALDIÇÕES: Os antigos egípcios acreditavam em magias e maldições. Eles inscreviam pragas ameaçadoras nas paredes e portas de suas tumbas. O principal fator que motivou o surgimento das maldições foram os ladrões de túmulos. Provavelmente muitos desses ladrões eram as mesmas pessoas que trabalhavam nas construções das tumbas.
TEMPLOS: o templo de culto era em geral muito complexo e continha lojas, celeiros, escolas e oficinas. Começavam com um portão principal que levava a um pátio aberto, além do qual havia uma sala hipostila (com teto de preferência) que continha muitas colunas, que eram gravadas e decoradas para se parecerem com rolos de papiros. Havia também uma sala que levava ao santuário interno. O santuário era habitado por uma estátua de ouro ou prata da divindade, que era tratada como se fosse um ser vivo, alimentada e cuidada todos os dias apenas pelos sacerdotes que moravam no templo. Os sacerdotes do templo não deixava os seguidores da religião egípcia adentrarem seus recintos, muito menos conhecer o santuário onde habitava a estátua do deus em questão. O aspecto obscuro desses lugares provavelmente servia para inspirar certo receio e temor entre os seguidores. Teoricamente apenas o faraó era considerado santo o suficiente para adentrar o santuário interno, mas na prática os sacerdotes de alto escalão eram nomeados para fornecer as “necessidades diárias” dos rituais que envolviam a divindade. Os sacerdotes deveriam se lavar cerca de quatro vezes ao dia e raspar todo o cabelo de sua cabeça e corpo como forma de ritual de purificação. Os sacerdotes mais importantes viviam o tempo todo nos templos. Originalmente também havia sacerdotisas, mas no Novo Império apenas os homens recebiam permissão para se tornarem sacerdotes. A presença feminina era permitida apenas como instrumentistas que tocavam música durante as cerimônias. O maior e mais imponente desses templos é o de Karnak, dedicado à tríade tebana de deuses: Amon (rei dos deuses e força criadora de vida), Mut (esposa de Amon) e Khonsu (deus da Lua, do tempo e do conhecimento). Estima-se que, para atingir o tamanho e a complexidade que possui hoje, foram necessários pelo menos mil anos de constantes construções. funcionamento. Documentos históricos indicam que apenas em Karnak trabalhavam cerca de vinte mil pessoas. Para alguns estudiosos, o poder dos templos chegava a ser um concorrente sério ao patrimônio do próprio faraó.  Luxor  era uma pequena cidade de 60 mil habitantes na margem direita do Nilo. Em seu ápice, contou com nada menos do que um milhão de habitantes e foi capital no Novo Império. Seu templo era destinado a Amon e lugar de origem da Ogdoade, nome dado às oito divindades primordiais (compostas por quatro casais: Nun e Naunet, Huh e Hauet, Kuk e Kauket e, por fim, Amon e Mut). 



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

20 CURIOSIDADES SOBRE AZUL É A COR MAIS QUENTE


Segue uma lista de curiosidades sobre uma das obras  LGBTs mais relevantes dos últimos anos. PS: Quando eu usar o nome Clémentine, estou me referindo ao quadrinho; quando usar o nome Adele, estou me referindo ao filme.
  1. O nome original do filme é La vie d'Adele (a vida de Adele).  
  2. O filme foi inspirado por uma graphic novel chamada "Le bleu est une couleur chaude" (O azul é uma cor quente).
  3. A história começa em 1994, em Lille, na França.
  4. No filme a protagonista se chama Adele (como a atriz que a interpreta); no quadrinho se chama Clémentine. 
  5. Clémentine tem 15 anos e é libriana. Em 2017 ela teria 38 anos.
  6. Emma e Adele se viram pela primeira vez no dia 27 de outubro de 1994.
  7. No dia 6 de dezembro de 1995 Adele deu o primeiro beijo gay em Aude. No filme, a personagem beijada se chama Beatrice, enquanto Aude é o nome da criança que se torna enteada de Emma. 
  8. Os pais de Clementine se chamam Fabienne e Daniel (no quadrinho ele achava Emma uma depravada)
  9. Thomás e Clémentine ficaram 6 meses juntos, e ela abandonou ele na cama, antes de os dois de fato dormirem juntos. Ele tentou insistir, mas ela acabou o relacionamento alguns dias depois. Já no filme, Adele e Thomás (interpretados por atores que namoravam na vida real) dormiram juntos antes de acabarem o relacionamento.
  10. Só no dia 6 de junho de 1996, quase dois anos depois da famigerada primeira encarada, Adele e Emma se reencontraram no bar. As duas começaram a conversar/flertar enquanto Emma ainda estava namorando Sabine Decocq, uma designer gráfica.
  11. Clémentine brigou por telefone com Emma por ela ter aparecido na frente de sua escola, atraindo comentários de colegas homofóbicos. Já no filme, Adele fica feliz por Emma ter ido lhe buscar e as duas saem andando sem olhar para trás.
  12. No quadrinho, Emma não foi na parada Gay com Clémentine (como acontece no filme), mas sim com Sabine. As duas apareceram na TV, Adele stalkeou pesquisou o nome de Sabine e descobriu o endereço onde as duas moravam.
  13. O primeiro beijo e a primeira noite entre Clémentine e Emma aconteceu em setembro de 1996 
  14. No quadrinho o casal teve diversas brigas logo no início do relacionamento: Emma tinha problemas com a "indecisão sexual" de Clémentine, e esta reclamava por continuar sendo "a outra" (já que oficialmente Sabine ainda era namorada de Emma). Mas como acontece várias vezes na versão em quadrinho, a briga das duas logo dá lugar a reconciliação. .
  15. Quando Emma foi conhecer os pais de Clémentine, Fabienne e Daniel a flagraram nua na cozinha, descobriram o relacionamento das duas e chutaram a filha para fora de casa. Esta parte da história não aparece no filme.
  16. Em 2008, Clémentine já tinha 30 anos quando teve sua traição descoberta por Emma. Ao ser chutada de casa, foi dormir no sofá de Valentin (melhor amigo dos tempos de escola).
  17.  Para lidar com a depressão pós-término, Clémentine se tornou viciada em remédios que pioraram a hipertensão arterial pulmonar dela. 
  18. Valentin ajudou Emma e Clémentine se reencontrar e reconciliar, mas a protagonista acabou tendo um pire-paque e morrendo alguns dias depois. Já no filme, Emma e Adele nunca se reconciliaram pois a primeira partiu para outro relacionamento.
  19. Na versão do quadrinho, a família de Emma não era rica e sequer aparece na história; já na versão cinematográfica, os conflitos de preconceito foram deixados de lado e o diretor resolveu dar mais ênfase às diferenças sociais e econômicas entre as personalidades, o que é enfatizado pelas cores, diálogos em família, iluminação e até o cardápio nas respectivas casas das personagens.
  20. É possível usar o google maps pra acessar alguns locais de filmagem de La vie d'Adele ↓ vide abaixo ↓
LIÈVAN
Casa da Adele (nº 15) → Google Maps
ROUBAIX
Museu → Google Maps
Parque onde se encontram pela segunda vez → Google Maps
LILLE
Escika de Adele → Google Maps
Faixa de segurança onde se vêem pela primeira vez →Google Maps
Bar gay onde se falam pela primeira vez → Google Maps
Parque onde as personagens se encontram → Google Maps


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

E SE?

Abaixo seguem ALGUNS dos trechos curiosos do livro "E se?", de Randall Munroe.


• Se a Terra parasse e a atmosfera não, teríamos um vendaval repentino de 1700 km/h. Quase todo mundo morreria, mas a raça humana não seria extinta. Lugares indicáveis seriam: Helsinque, na Finlândia (por causa da complexa rede de túneis abaixo dela), porões profundos e túneis de metrô, e a estação de pesquisa Amundsen-Scott no polo Sul (a Terra gira mais rápido perto da linha do Equador). Por um instante, o oceano deixaria de ter superfície. Os dias e as noites durariam 6 meses cada.  Do lado do dia, a superfície cozinharia com a luz solar constante, enquanto do lado da noite a temperatura despencaria. A lua começaria a se aproximar da Terra e sua gravidade afetaria as marés de forma a começar a impulsionar a Terra, fazendo-a girar novamente.
• Barras de combustível radioativo ficam no fundo de piscinas profundas, abaixo de vários metros de água morna, que isola a radiação. É possível que se receba uma dose menor de radiação nadando cachorrinho numa piscina de combustível usado do que andando pela rua.
Dá para construir um propulsor a jato (jetpack) usando metralhadoras que atirem para baixo? Se uma AK-47 ficasse de ponta-cabeça e você desse um jeito de grudar o gatilho, ela se ergueria no ar enquanto atirava, mas não teria potência suficiente para erguer nada mais pesado que um esquilo.  A Gryazev-Shipunov GSh-6-30 teria o impulso mais apropriado, mas provavelmente destruiria a si mesma e à pessoa que estivesse tentando usar o "jetpack".  
• Se toda a internet fosse arquivada em discos rígidos, o espaço físico ocupado por ela seria menor que um petroleiro.
Se um asteroide fosse bem pequeno mas superdenso, seria possível morar nele como o Pequeno Príncipe? Se você estivesse na superfície, sentiria forças de maré. Seus pés iam parecer mais pesados que sua cabeça, e haveria uma sensação delicada de alongamento. Se você atingisse 18 km/h sairia voando do planeta; um pouco menos que essa velocidade e você começaria a orbitar ao redor do asteroide, de forma caótica, a 10,8 km/h.
• Perder seu DNA provavelmente resultaria em dor abdominal, náusea, tontura, colapso veloz do sistema imunológico e morte em questão de dias ou horas, seja por infecção sistêmica total ou falência geral dos órgãos.
• O filho de um progenitor que se autofertilizou seria como um clone do pai com avarias genéticas graves. O progenitor teria todos os genes da criança, mas a criança não teria todos os genes do pai. Metade dos cromossomos do filho teria seus cromossomos “parceiros” substituídos por uma cópia deles mesmos.
• Já se produziram mais de 400 bilhões de pecinhas Lego com o passar dos anos. Nova York e Londres estão a 700 milhões de rebites de distância. 
• A Wikipédia em inglês atualmente tem de 125 mil a 150 mil edições por dia, ou noventa a cem por minuto.
• Cerca de 10 a 20 milhões de pessoas que criaram perfis do Facebook já morreram.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

COMO VIVER NA ERA DIGITAL



Lições Extraídas do livro de Tom Chatfield
Esse texto mistura interpretações minhas, recortes de trechos do livro e algumas curiosidades soltas. Ele tem tópicos organizados de forma mais ou menos aleatória e casual.

• Nos anos 1970 surgem os microprocessador e chegam os primeiros computadores pessoais (Desktop) → Laptop → smartphones e tablets capazes de suprir  todas as nossas necessidades de mídia e de comunicação
• Hoje existem mais páginas na WEB do que estrelas na Via Lactea. O meio digital é mais livre e dinâmico, capaz de promover a difusão de informações. Mais de 2 bilhões de  pessoas têm acesso à internet, e mais de 4 bilhões estão conectadas umas às outras via telefone celular.
• As tecnologias afetam nosso comportamento e amplificam nossas qualidades e defeitos. Por outro lado, assim como pode amplificar, a tecnologia pode reduzir as pessoas a meras coisas. Exemplos de coisificação são o cyber-bullying e o stalking, que provam que é mais fácil desumanizar e destratar alguém que não está na nossa frente. Por isso precisamos reconhecer  que as experiências humanas que são criadas pela tecnologia são mais importantes que a própria tecnologia. Como diria Tim O’Reilly: “Nunca diga na internet aquilo que você não diria pessoalmente.” 
• A mudança comportamental mais importante de todas está relacionada ao que consideramos nosso “estado de consciência” padrão: o normal é estar conectado e, para nos desconectarmos, precisamos planejar tudo previamente. Desconectados somos mais espontâneos, não temos medo de repetir o que já foi dito, tampouco nos preocupamos com a reação de pessoas que estariam "nos assistindo".
• Todas as tecnologias do mundo não podem criar algo precioso: o tempo. Por isso tentamos aproveitar nosso tempo da melhor maneira possível, inclusiva recorrendo à dinâmicas multitarefas.  A verdade, contudo, é que não temos a capacidade de dividir nossa atenção de maneira eficaz. Em vez disso, nos deslocamos rapidamente de uma tarefa para outra, de modo que mão fazemos nada direito: é o que Linda Stone chama de “atenção parcial contínua” . Ademais, por ser tão precioso, o tempo merece ser experienciado, e isso requer que não estejamos frequentemente ignorando o que acontece ao nosso redor para prestar meia-atenção às telas de nossos dispositivos. 
• A comunicação por texto é tão querida por todos porque atende nossa necessidade de controle e nossas exigência (quanto aos outros e a nós mesmos) inatingíveis. Podemos editar o texto calmamente sem deixar transparecer nossas dúvidas, falta de conhecimento, hesitação, etc.
• Mantemos uma quantidade cada vez maior de memórias importantes dentro de máquinas. Quando confiamos demais na tecnologia e de menos em nossa mente, deixamos de consolidar nossas memórias.
•  O estado mental mais difícil de ser desenvolvido na era digital sejam os devaneios que geram os impulso criativo e à paz interior. Esses pensamentos surgem em momentos “vazios” de nossa vida, que não mais existe, pois estamos constantemente pipocando de um estímulo mental para o outro.
• Temos cada vez mais acesso a softwares e hardwares, e cada vez menos compreensão de como tudo funciona. Um processo do qual os fabricantes têm encorajado cada vez mais é o de vender dispositivos e serviços que funcionam assim que saem da caixa, com pouca margem para os usuários personalizarem sua própria experiência. Com isso, podemos esperar apenas poucas melhorias e muitos abusos. Como John Naughton escreveu: "ao utilizar serviços ‘gratuitos’, é preciso aceitar que você (ou, mais especificamente, a sua identidade) é o produto deles”.
• Inovações no processamento de conjuntos de dados cada vez maiores alteraram nossa percepção e ideias sobre valor cultural e intelectual. Há muito tempo toleramos – e até mesmo requisitamos – conselhos sobre o que devemos ou não devemos gostar. Porém, quando todos nos tornamos de publicar nossos conselhos, meras proclamações individuais de conhecimento  têm pouco crédito. Praticamente tudo está hoje sob os olhares do mundo inteiro e é peneirado pelo gosto do público. Isso gera o risco de o desaparecimento da noção de excelência, em meio a amadorismo e autopromoção. Ideias e trabalhos excepcionais deixam de gerar impacto público, porque são tratadas igualmente a ideias e trabalhos banais, e as vezes até acabam sendo preteridas por serem menos fácil de digerir.
• Não importa o quão bizarro, inusitado, específico ou ilegal seja o seu gosto, sempre existirão outros como você do outro lado plenamente preparados para te atender. No campo dos relacionamentos, entre a busca por algo significativo do  Match.com  e o sexo fácil do AdultFriendFinder, existe um campo neutro como o ChatRoulette:  uma roleta-russa social, conectando pessoas aleatoriamente em conversas ao vivo via webcam e microfone. Em média as conversas duram menos de um minuto (graças à existência do botão “próximo”) e estima-se que uma em cada oito interações pode ser considerada“obscena” #nãomandanudesnão. No entanto,  o serviço também tem sido usado para diversos fins:  espetáculos de música, estudos sociológicos, aparições de celebridades, etc.
• Em outubro de 2011, de acordo com as estatísticas da empresa de monitoramento de tráfego Alexa, sexo e pornografia eram  menos interessantes para o mundo do que a Amazon, a Wikipédia, o site IMDB etc.
• A humanidade gasta mais de três bilhões de horas por semana com jogos eletrônicos. Isto  tem impactos econômicos e sociais: no WoW, já foi pago R$1076078,77 por uma estação espacial virtual; Jogadores chineses são pagos para evoluir personagens alheios; estudos apontam que a cota de satisfação pessoal gerada ao jogar Second Life é quase igual àquela gerada pelo ato de encontrar um emprego. Tudo isso indica que uma pessoa pode se sentir inclinada buscar refúgio em uma vida virtual, negligenciando a real.  O YouTube, Twitter e Facebook se parecem bastante com um jogo: recompensam seus esforços com "likes", comentários e afins; e criam um fluxo envolvente de ações e reações.  
• Com a popularização dos dispositivos portáteis (smartphones e tablets) os jogos eletrônicos estão rapidamente se tornando um passatempo universal, e não só de quem tem video-games. Eles remediam o tédio; exigem habilidade e premiam o esforço. São formas seguras por meio das quais aprendemos habilidades específicas, pois ao jogá-los sabemos que estamos num universo limitado, em que o esforço e a competência automaticamente levam ao sucesso. É o oposto da vida real, em que as possibilidades são assustadoramente variadas, e não há certeza quanto ás consequências de nossos esforços.
•A confiança declarada nos políticos está próxima dos níveis mais baixos de todos os tempos, enquanto  jornais impressos e canais de televisão estão apenas um pouco melhor que isso no que tange ao gosto e ao interesse públicos.  Para os cidadãos do século XXI, capazes de participar de grupos de muitos milhares e até mesmo milhões de pessoas, a relevância política tanto da ação quanto da inércia também cresce em ritmo constante. Em alguns países, a tecnologia possibilita a transição do poder, das mão das minorias poderosas para a mão de todos. Já em outros lugares, como a China,  o grande número de usuários não impede a prática de censura e monitoramento populacional.
• A história tradicional da mídia é uma caminhada a partir da abertura em direção ao monopólio. A natureza peculiar da internet torna a centralização muito mais difícil, mas não impossível.


sábado, 14 de janeiro de 2017

Recortes do livro "100 TIRANOS", de Nigel Cawthrone #2

TIRANOS DA IDADE MÉDIA

(O Drácula da vida real)

HARUN-AL-RASHID
763-809 • CALIFA DE BAGDÁ
Harun-al-Rashid sofria de insônia e percorria disfarçado as ruas à noite com um carrasco a seu lado, para o caso de querer ordenar a morte de alguém. Rompeu com seu melhor amigo, Jafar, possivelmente devido a um ciúme homossexual. Conta-se que Harun tinha promovido o casamento secreto de Jafar com a sua irmã, sob a condição de que ele não o consumasse. Quando os dois se apaixonaram e tiveram um filho, Harun ordenou a morte de toda a família Barmakid, incluindo os ramos mais distantes. As últimas palavras de Harun teriam sido: “Se me restar o fôlego para dizer uma única palavra será: ‘Matem-no’”. Ele permaneceu muito popular no mundo árabe, basicamente por ter feito de Bagdá uma metrópole mundial. Muitas das histórias do Livro das Mil e Uma Noites dizem respeito a ele.


GÊNGIS KHAN
1162?-1227 • GOVERNANTE DOS MONGÓIS
Ao morrer, em 1227, ele havia sido responsável pela morte de aproximadamente 20 milhões de pessoas, cerca de um décimo da população do mundo conhecido em sua época. Aos 12 anos matou o irmão numa disputa por um peixe. Aos 33 anos, havia se tornado o líder indiscutível das hordas mongóis – e adotou o nome de Gêngis Khan ("governante universal”).  Conquistou a China imperial, derrotou tropas russas, atacou o Casaquistão, dentre outros massacres e conquistas. A Gêngis Khan foram atribuídas estas palavras: “Digo-lhes que sou o flagelo de Alá, e, se não tivessem sido grandes pecadores, Alá não teria feito minha ira recair sobre suas cabeças”. Queimou a cidade de Bucara, que permaneceria desabitada por muito tempo. Além de massacrar os habitantes de cidades inteiras, destruiu sistemas de irrigação seculares. Muitos centros urbanos foram arrasados para sempre.Bamiy an também foi vítima dos mongóis, com seus gigantescos Budas escavados na rocha (estes sobreviveram a Gêngis Khan, para serem destruídos pelo Talibã afegão em 2002).  O próprio Gêngis Khan voltou à Mongólia e morreu nas margens do lago Baical em 1227. Dez anos após a sua morte, a “Horda de Ouro” mongol atacou mais uma vez a Rússia. Em 1347 os mongóis
inventaram a guerra biológica, lançando de catapulta cadáveres das vítimas da peste por sobre as muralhas para infectar os que estavam dentro delas. Os mongóis continuaram a devastar a Rússia durante séculos. 


JOÃO • O USURPADOR
1167-1216 • REI DA INGLATERRA
João tomou o poder de seu irmão (Ricardo Coração de Leão) na Inglaterra em 1190. Quando Ricardo retornou, em 1194, baniu o irmão. Quando Ricardo morreu, em 1199, João tornou-se rei. Ele impôs tributos pesados – especialmente aos judeus – e usurpou as prerrogativas dos barões feudais, tomando liberdades com suas mulheres e filhas. A nobreza reagiu e, em 19 de junho de 1215, o rei foi obrigado a assinar a Magna Carta, que afirma que o rei não está acima da lei.  O rei reuniu um grande exército para enfrentar os barões, que pediram auxílio aos franceses. Estava prestes a mergulhar a Inglaterra numa guerra em larga escala quando morreu de disenteria em 1216. 


TOMÁS DE TORQUEMADA
1420-1498 • GRANDE INQUISIDOR DA ESPANHA
O frade dominicano Tomás de Torquemada persuadiu os reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela a impulsionar a Inquisição espanhola, que torturou e matou em nome da Igreja Católica. Orgulhava-se de ter uma vida extremamente austera: não comia carne e recusava-se a vestir linho por baixo de seu hábito grosseiro. E estava sempre descalço. Ele escreveu os 28 artigos que ajudaram seus inquisidores a extirpar a feitiçaria, bigamia, sodomia e usura, assim como a heresia, a blasfêmia e a apostasia. Autorizou o uso da tortura – em certos casos, até a morte – para extrair confissões. Argumentava que os judeus eram uma ameaça para a Espanha, e em 31 de março de 1492 Fernando e Isabel promulgaram o Edito de Expulsão, ordenando a saída de todos os judeus da Espanha. Dizia que não se devia derramar sangue, mas admitia que as pessoas morressem sob tortura. Se isso ocorresse, os inquisidores deviam buscar imediatamente a absolvição de outro sacerdote. Torquemada deu a todos os seus padres o poder de absolver uns aos outros de assassinato. Havia cinco estágios cuidadosamente concebidos para o interrogatório: descrição das  torturas; jornada até a câmara de tortura, em que a vítima via outras vítimas sendo torturadas; o prisioneiro era despido, ficando mais vulnerável;  mostrar à vítima o instrumento particular que seria usado nela; no quinto e último estágio, a dor começava.  Uma vez que a vítima fosse interrogada e sobrevivesse, não poderia ser torturada de novo.  Legalmente, confissões extraídas sob tortura não eram válidas. Por isso, 24 horas depois, a vítima era levada de volta ao Santo Ofício, onde sua confissão era
lida em voz alta. Sob juramento, ela devia afirmar que a confissão estava correta em cada detalhe. Se não o fizesse, a tortura, que havia sido meramente suspensa, seria reiniciada. Caso contrário, a vítima era encaminhada ao auto de fé onde era publicamente executada. Torquemada  continuou a supervisionar as atividades da Inquisição até 1498, quando morreu pacificamente em sua cama. A Inquisição continuaria por mais quase 400 anos. 


VLAD, O EMPALADOR 
C. 1431-1476 • CONDE DA VALÁQUIA
Inspiração para o conde Drácula, tornou-se governante da Valáquia,  ao sul da Transilvânia, em 1456.  O pai de Vlad foi honrado pelo sagrado imperador romano Sigismundo com o ingresso na Ordem do Dragão – dracul em valáquio. Isso significava que seu filho era “filho do dragão”, ou Drácula. Os seis anos seguintes de seu governo foram marcados pela crueldade. Quinhentos nobres valáquios que se opuseram a seu governo foram presos. Os mais velhos foram empalados; os mais jovens trabalharam até morrer na construção da fortaleza de Vlad, em Poenari. Ele continuou a cometer crimes em nome da lei e da ordem. Nem sequer crianças estavam a salvo do empalamento. Drácula mandava também esfolar pessoas ou fervê-las vivas, e depois exibia os corpos para que o público aprendesse a lição. Estima-se que tenha matado entre 40 mil e 100 mil pessoas e que cerca de 20 mil cadáveres foram exibidos na entrada de sua capital, Targoviste.  Tendo rompido com os húngaros, Vlad voltou-se para os turcos em busca de apoio, mas, quando se recusou a pagar um tributo de 10 mil ducados e 500 jovens, o sultão otomano Muhammad II, o Conquistador, invadiu a
Valáquia. Recuando diante do inimigo, Vlad queimou aldeias, envenenou poços e enviou vítimas de doenças infecciosas ao acampamento dos turcos. Quando estes finalmente alcançaram Targoviste, depararam-se com um campo com estacas nas quais podiam ver os corpos empalados de homens, mulheres e crianças, cerca de 20 mil deles… Muhammad II ficou tão assustado que se retirou. As circunstâncias da morte de Vlad permanecem obscuras. Seja como for, sua cabeça cortada foi levada pelos turcos para Constantinopla, onde foi cravada numa estaca acima da cidade. Há boatos de que , quando cerca de 300 ciganos entraram em seu país,  Vlad selecionou os três melhores dentre eles e os grelhou; estes os outros tiveram de comer.


HERNÁN CORTÉS
1485-1547 • DESTRUIDOR DOS ASTECAS
Conquistou o império asteca com 500 homens, 16 cavalos e alguns canhões, além da ajuda preciosa de sua amante, uma escrava chamada Malinche. Segundo as lendas astecas, o deus Quetzalcoatl, governante mítico dos toltecas, precursores dos astecas, havia sido exilado e deveria retornar em 1519, o ano exato em que Cortés chegou de Cuba. O líder Montezuma pensou que eles eram deuses e que seus navios eram templos de madeira. Ele lhes enviou ouro e trajes magníficos feitos de penas, com a esperança de que os deuses aceitassem os presentes e fossem embora. Dispondo de couraças, mosquetes, bestas, espadas, canhões e cavalos, os espanhóis tinham esmagadora superioridade militar. Os povos pré-colombianos do México vestiam trajes requintados e lutavam armados apenas com uma pequena espada feita de obsidiana – vidro vulcânico. Cortés destruiu o templo de Huitzilopochtli, deus asteca da guerra, e colocou no lugar uma imagem da Virgem Maria. Cidades astecas se renderam com medo. Os astecas também foram abatidos por uma epidemia de varíola trazida por um dos soldados europeus. Cortés demoliu Tenochtitlán, casa após casa, usando os entulhos para encher os canais que serviam de caminhos na cidade, no estilo de Veneza. A Cidade do México foi erguida sobre essas ruínas. Os astecas sobreviventes foram usados como força de trabalho forçado nas minas de ouro e prata. A conversão forçada ao cristianismo destruiu os elementos remanescentes de sua cultura. Cortéz morreu em Sevilha em 1547, antes de embarcar de volta para seu palácio mexicano, em Cuernavaca.


HENRIQUE VIII
1491-1547 • REI DA INGLATERRA
Quando Henrique VIII subiu ao trono, parecia ser o rei ideal – jovem, em boa forma física, bem-educado e atraente. Mas ele se transformou num tirano sanguinário. Em 1502, seu irmão mais velho, Artur, morreu e ele tornou-se herdeiro do trono. Em 1509, sucedeu ao pai Henrique VII, que tinha dado à Inglaterra 24 anos de paz depois das Guerras das Rosas.Para conservar a aliança com a Espanha, Henrique casou-se com Catarina de Aragão, com o entendimento de que o casamento anterior dela não havia sido consumado. Este parece ter sido também um casamento por amor – pelo menos no início. Embora Catarina tivesse dado à luz uma menina, a princesa Mary, em 1516, ela não conseguiu dar a Henrique o herdeiro do sexo masculino que ele tanto desejava. Catarina tinha então mais de 40 anos e Henrique havia se apaixonado por Ana Bolena, irmã de uma amante que havia lhe dado um filho ilegítimo. Ele apelou ao papa para que este lhe garantisse o divórcio. Na ocasião o papa Clemente VII estava sob o controle do imperador Carlos V, sobrinho de Catarina. Henrique foi em frente e desposou Ana Bolena sem a permissão do papa e rompeu os laços com a Igreja de Roma, declarando-se o chefe supremo da igreja na Inglaterra. Quando Ana também fracassou em gerar um herdeiro do sexo masculino, ele a acusou de adultério. Ela foi sentenciada a ser queimada viva, porém Henrique misericordiosamente alterou a sentença para decapitação e trouxe de Calais um hábil espadachim para a tarefa. Henrique casou-se com Jane Seymour, que lhe deu um filho, que morreu com
15 anos. Henrique casou-se outra vez, com uma princesa estrangeira, Ana de Clèves, mas ela não agradou ao rei, que a descreveu como “a égua flamenga”. A quinta esposa de Henrique, Catarina Howard, de 19 anos, foi executada por adultério quando se descobriu que ela não era virgem ao desposá-lo. O rei casou-se novamente, pela sexta vez, com Catarina Parr, que sobreviveria a ele. 


MARY I
1516-1558 • RAINHA DA INGLATERRA
Mary Tudor foi a primeira rainha a governar a Inglaterra por seu próprio direito. Sua brutal perseguição aos protestantes valeu-lhe a alcunha de “Bloody Mary ” (Mary, a Sanguinária). Filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão. Após a morte de seu meio-irmão, o frágil Eduardo VI, uma insurreição protestante levou Jane Grey ao trono, mas havia um sentimento generalizado de que era a herdeira legítima e Mary voltou a Londres para receber as boas-vindas de maneira triunfal. Logo após sua coroação, Mary começou a reanimar a Igreja Católica, que fora banida por Henrique VIII.  Promoveu a morte de 300 protestantes na fogueira. Seu casamento com o rei espanhol arrastou a Inglaterra a uma guerra impopular contra a França. Solitária, sem filhos e odiada, Mary morreu em 17 de novembro de 1558, sendo sucedida por sua meia-irmã Elizabeth I, uma protestante.


IVAN, O TERRÍVEL
1530-1584 • CZAR DA RÚSSIA
Tendo ascendido ao trono, como grão-príncipe de Moscou aos 3 anos de idade, Ivan vivia com medo da casta de guerreiros “boiardos”. A mãe de Ivan, Helena, assumiu o poder como regente. Ela morreu provavelmente envenenada, quando Ivan tinha apenas 8 anos. Os boiardos negligenciavam a ele e seu irmão surdo-mudo, Yuri. Ivan era um mendigo no próprio palácio. Ivan era um garoto inteligente e sensível, bem como um leitor insaciável. Ele descontava suas frustrações em animais indefesos, depenando pássaros, furando-lhes os olhos e retalhando-lhes os corpos. Em 29 de dezembro de 1543, Ivan, então com 13 anos, subitamente contra-atacou. Ao tomar o poder, Ivan já era um jovem perturbado e afeito à bebida. Ele atirava cães e gatos dos muros do Kremlin para ver seu sofrimento ao atingirem o chão e vagava pelas ruas de Moscou com uma gangue, bebendo, assaltando idosos, estuprando mulheres e matando suas vítimas estranguladas. Por outro lado, era muito devoto. Aos 17 anos, Ivan foi coroado czar da Rússia.  Ivan precisava se casar e todas as famílias nobres da Rússia apresentaram suas filhas. Ele escolheu Anastásia, uma Romanov, que conseguiu acalmá-lo. Quando ela morreu, em 1560, após ter gerado seis filhos, o czar voltou a ficar instável. Colérico e depressivo, tornou-se cada vez mais paranoico. Ivan dissolveu o conselho seleto e tomou o poder em suas mãos, iniciando um reino de terror. Até hoje, encontram-se listas que incluem cerca de 4 mil nomes de vítimas. Quando ele anunciou que abdicaria, em 1564, o povo implorou-lhe que ficasse, por achar que o reino de um czar louco era melhor que outra dose de governo boiardo. Ivan aceitou permanecer, sob a condição do poder absoluto. Os amigos não estavam mais seguros. Seu tesoureiro, Nikita Funikov, foi fervido até a morte em um caldeirão.
Em 1570, Ivan saqueou e queimou a cidade de Novgorod e torturou, mutilou, empalou, queimou e massacrou 60 mil de seus cidadãos.  Subitamente, em 1572 Ivan renunciou ao título de príncipe de Moscou e instalou um príncipe tártaro no trono, exilando-o um ano depois. Em 1561, casou-se com uma bela circassiana, mas logo se cansou dela. Ela morreu em 1569 e, dois anos depois, Ivan casou-se com a filha de um mercador, que encontraria seu fim duas semanas após as núpcias. Em 1575, livrou-se da quarta esposa enviando-a para um convento. A quinta esposa logo foi trocada pela sexta. Quando esta foi encontrada com um amante, ele foi empalado sob a janela dela e ela se juntou à quarta esposa no convento. Quando Ivan descobriu que sua sétima esposa não era virgem, mandou afogá-la. A oitava sobreviveu a ele. Enquanto isso, o czar se gabava de ter deflorado mil virgens. Ivan mantinha um bom relacionamento com seu primogênito, até que  em 19 de novembro de 1581 Ivan discutiu com a nora sobre a adequação das roupas que ela usava. Ele a espancou, causando um aborto. Pai e filho brigaram e Ivan acertou a cabeça do filho com o cajado de ponta metálica. O príncipe ficou em coma por dias até sucumbir. Ao final da vida, o corpo de Ivan inchou, sua pele descamava e exalava um odor terrível. Com a morte se aproximando, ele fez votos monásticos.


TOYOTOMI HIDEYOSHI
1536-1598 • GOVERNANTE DO JAPÃO
Completou a unificação do país. Soldado de Oda Nobunaga, que iniciara a unificação, Hideyoshi ascendeu rapidamente nas fileiras dos samurais e chegou ao comando quando Nobunaga se suicidou, em 1582. Uma vez, desviou o curso de um rio para dentro de um castelo inimigo, afogando todos os habitantes. Nas invasões à Coreia em 1592 e 1597, ele encorajou seus homens a cortar nariz e orelhas dos inimigos e planejava fazer um grande monte com eles em Kyoto.Quando seu único filho morreu, em 1591, Hidey oshi nomeou seu sobrinho de 23 anos, Hidetsugu, como seu sucessor. Seis meses depois, quando outro filho nasceu inesperadamente, Hidetsugu foi exilado; depois, foi ordenado a cometer suicídio. Sua jovem esposa, seus três filhos e suas 30 concubinas foram exibidos pelas ruas de Kyoto e publicamente executados em seguida.

ELISABETE BÁTHORY
1560-1614 • CONDESSA DA TRANSILVÂNIA
De uma beleza lendária, Elisabete Báthory tinha familiares conhecidos pela loucura ou perverção sexual, além de um tio que era um infame adorador do diabo. Elisabete passava horas admirando a própria beleza no espelho e teve uma série de amantes. Chegou até a fugir com um deles, mas retornou e foi perdoada pelo marido. Também começou a visitar regularmente sua tia, a condessa Clara Báthory, bissexual assumida. Ela se divertia ainda torturando jovens criadas: seus castigos favoritos incluíam deixá-las despidas na neve. Com a orientação de uma velha serva chamada Doroteia Szentes (Dorka), que dizia ser bruxa, ela passou a se interessar pelo oculto. Dorka encorajou as tendências sádicas de Elisabete e, juntas, as duas começaram a disciplinar as criadas em uma câmara de tortura subterrânea. Com a ajuda de Dorka e de
outra bruxa chamada Ana Darvulia, que também seria sua amante, Elisabete satisfez suas fantasias de perversão. Em 1600, o marido de Elisabete faleceu. Ela agora tinha 40 anos e acreditava ter encontrado o segredo da juventude eterna: o sangue de moças jovens.  Assim, Elisabete banhou-se em sangue, convencida de que embelezaria todo o seu corpo. Ela continuou o tratamento pelos dez anos que se seguiram, banhando-se regularmente no sangue de jovens que eram contratadas como criadas do Csejthe e das aldeias próximas, e então mortas e mutiladas. Ela bebia seu sangue também para rejuvenescer os órgãos internos. Mais tarde, chegou à conclusão de que o sangue das camponesas era de uma qualidade inferior, então enviou seus escudeiros para sequestrarem garotas da aristocracia. Em 1610, o rei Matias II da Hungria ordenou que o conde Cuyorgy Thurzo investigasse os crimes. Na noite de 30 de dezembro de 1610, Thurzo invadiu o castelo Csejthe com um grupo de soldados. Nas masmorras, encontraram diversas garotas vivas, algumas das quais haviam sido torturadas. Sob o castelo, desenterraram os corpos de cerca de 50 jovens e, no quarto de Elisabete Báthory, encontraram citações de possíveis 650 vítimas. Mas a condessa era de origem nobre, então não foi levada a uma corte para julgamento. O rei Matias queria que Elisabete enfrentasse a pena de morte por seus crimes, mas, em respeito ao primo dela, seu primeiro-ministro, ele a condenou à pena perpétua de confinamento solitário. As portas e janelas do quarto da condessa foram muradas com ela dentro. Deixou-se uma pequena brecha, por meio da qual a comida passaria. Em 1614, quatro anos depois de ter sido enclausurada, a “Condessa Sangrenta” estava morta, aos 54 anos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

SENSO COMUM

- O senso comum é um conjunto de conhecimentos variados sobre coisas específicas. Este conhecimento informal é adquirido com a vida prática, e nem notamos que o temos até que somos questionados a este respeito. Exemplo: sabemos que, ao entrarmos em um elevador onde já se encontra uma pessoa, não devemos parar de frente para ela e ficar encarando.
- O senso comum nem sempre é comum de maneira absoluta. Diferentes culturas são compostas de pessoas que agem e encaram o mundo de diferentes formas.
- Como o senso comum é formado por pequenos conhecimentos, adquiridos isoladamente, estes "conhecimentinhos" podem contradizer uns aos outros.
- Por isso, o senso comum funciona bem para embasar pequenas decisões ("o que vou vestir hoje?"), que atendem necessidades existentes no presente, e num espaço específico.
- Por outro lado, como conseguimos facilmente tomar estas pequenas decisões, temos a ilusão de que o senso comum também consegue fundamentar grandes posicionamentos, sobre questões complexas relativas ao futuro. É por isso que as pessoas vivem opinando sobre questões políticas, sociais e econômicas sem nunca ter buscando informações a respeito: o cacoete do senso comum nos leva a acreditar que podemos opinar sobre qualquer coisa.
- O senso comum nos leva a crer que podemos fazer previsões e dar sentido a atitudes, quando na verdade na maioria das vezes sequer podemos enumerar todos os fatores relevantes que levam a determinado desfecho. Exemplo: quando vemos alguém comprar um vinho, atribuímos sua escolha ao gosto e condições financeiras do comprador; contudo, outros fatores são importantes, desde a finalidade do vinho e o humor do comprador, até a influência inconsciente exercida pela música que tocava no momento da compra.
- Seres humanos superestimam a racionalidade uns dos outros. Por isso, como tentamos estimar o processo de escolha de outros humanos, presumimos que trata-se de um processo lógico, e ignoramos fatores valorativos, emocionais, de condicionamento social, ou até a forma como tendemos a escolher teorias/filosofias que reforçam aquilo que já pensávamos ou sentíamos.
- O senso comum preenche lacunas, nos levando a acreditar que sabemos sobre uma coisa por ter tido contato com ela. Exemplo: é comum que quadros negros sejam da cor verde e, por isso, quando perguntados sobre a cor dos quadros de suas salas, muitos alunos afirmaram serem verdes mesmo quando eram azul.
- O senso comum é capaz de moldar o gosto de público. Se uma série de circunstâncias específicas se desenrolar levando uma obra ao sucesso, as pessoas já vão condicionadas a concordar que a obra é muito boa antes de saber o porquê, e se discordarem vão achar que é por ignorância pessoal ("não sou inteligente o suficiente, por isso não estou vendo o que tem de tão especial nessa obra"). Quando perguntadas, as pessoas que gostaram da obra vão dizer que seu sucesso se deve às suas características. No entanto, é provável que uma série de outras obras com as mesmas características não tenham atingido o mesmo sucesso.
- O senso comum leva ao raciocínio circular, que pode ser uma ferramento útil às pessoas que querem simplesmente justificar seus preconceitos. Exemplo: adoção por casais gays não é possível porque a sociedade não está pronta → a sociedade não está pronta porque não está acostumada a ter contato com famílias com membros homossexuais  a sociedade não quer ter contato com famílias com membros homossexuais porque não está pronta.
- O modelo de motim de Granovetter sugere que determinadas condutas se tornam mais aceitáveis porque outras pessoas a adotaram.  
- É comum que seja atribuído maior poder de influência a "pessoas especiais" (ex: famosos). No entanto, fatores circunstanciais têm grande papel no processo de formação de uma tendência. Exemplo: um grande incêndio numa floresta não pode ser atribuído somente ao quão especial era a faísca inicial, mas também ao vento, à umidade do ar, à vegetação próxima à fagulha etc.
- De outro lado, cientistas sociais já chegaram à conclusão de se encontrarmos pessoas comprometidas o suficiente, estamos a seis/sete apertos de mão de qualquer pessoa do mundo.
- Muitas vezes o poder dos influenciadores têm muito mais a ver com a suscetibilidade à manipulação do público que os acompanha, do que propriamente às qualidades do influenciador em questão. Também tem a ver com o poder de influência da pessoa que recebeu a informação, e que pode ou não convencer outras pessoas a passarem a diante aquela tendência em potencial, numa espécie de contágio.
- Assim, um grande número de "influenciadores acidentais" pode ser muito mais determinante, para espalhar uma tendência, do que algumas "pessoas sociais". 
- Pode-se dizer que uma parte do senso comum é adquirido por meio do que aprendemos com a história. O problema é que para descobrirmos se A aconteceu por causa de B, precisamos testar isso várias vezes; a história, por sua vez, não pode ser testada  porque só acontece uma vez.
- O fato de a história só acontecer uma vez, ao invés de gerar questionamentos acerca dos reais motivos por trás de um evento histórico, faz o contrário: surge um determinismo que faz os acontecimentos e o nexo causal entre eles parecerem inevitáveis → "teria acontecido de qualquer forma". 
- Isso acontece por causa de algo chamado viés retrospectivo: aquele sentimento de "eu sabia disso o tempo todo".
- O determinismo nos faz deixar de prestar atenção em tudo o que poderia ter acontecido, mas não aconteceu. Exemplo: aquela obra que tinha todas as características de obra boa, mas não chegou ao sucesso.
- Tudo isso faz com que nós estabelecemos uma série de nexos causais (relação entre causa e consequência) inexistentes ou precários, que nos levam a aprendizados ainda mais precários que passam a fazer parte do senso comum.
- Outro problema de tentar aprender com a história é que só sabemos o que foi historicamente relevante anos após um acontecimento, quando já se deram todos os seus desdobramentos sociais, econômicos e etc. Já no presente, não podemos determinar qual pequena fagulha será relevante o suficiente para colaborar e formar um incêndio; tampouco podemos ter conhecimento da infinidade de coisas que estão acontecendo acontecendo simultaneamente, e que também ajudarão a causar o incêndio.
- Além disso, os desdobramentos a curto, médio e longo prazo de um evento podem alternar: algo pode ser bom a curto prazo e ter consequências nefastas no futuro distante.
- Por fim, a maneira como a história é contada pode nos induzir a erros. As vezes tudo parece ter acontecido por um motivo racional, quando na verdade uma série de atitudes historicamente determinantes foram tomadas pelos mais aleatórios motivos. 
- Segundo já dito, por meio do que aprendemos com a história formamos o senso comum, e por meio do senso comum formamos opiniões e fazemos previsões que pautam nossas atitudes atuais. O que acontece é que, em razão das emboscadas da história e do senso comum, não sabemos distinguir uma previsão simples ("amanhã vai fazer sol naquela cidade em que sempre faz sol") de uma previsão complexa ("em quais ações coloco meu dinheiro?").
- Prever eventos sociais é difícil por causa da complexidade das relações dentro da sociedade. Por isso, o melhor que podemos fazer é estabelecer probabilidades.
- Há também a dificuldade de saber o que prever. Em 1930 ninguém perderia tempo tentando prever quais Youtubers seriam relevantes hoje, porque sequer se concebia o conceito de internet, tampouco de um site onde as pessoas podem livremente se expressar e entreter outras pessoas.
- Outra dificuldade está no que Duncan J. Watts chama de "Cisnes Negros": eventos muito relevantes, mas extremamente raros. Como aprendemos com a história e com o que acontece costumeiramente, algo que nunca aconteceu antes e que não é costumeiro se torna impossível de prever.

Este texto é formado de pequenos aprendizados que extrai da primeira metade do livro Tudo é Óbvio: desde que você saiba a resposta.