sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

MEÇA SUAS PRIORIDADES, PARÇA

 O carnaval acabou semana passada, mas o mimimi sobrevive. Não é de surpreender, afinal todo fenômeno, evento ou tópico popular sempre acaba tendo o poder de provocar o surgimento de opiniões bem fortes. 
As reclamações giram em torno de variados aspectos, dos mais subjetivos (música, roupas, etc.) aos mais objetivos (poluição, fazer a rua de urinol, assediar, exagerar no trago, dentre outras atitudes inconsequentes). As críticas mais relevantes normalmente recaem sobre condutas pontuais. São coisas que existem em todos os cantos, mas que você só viu no carnaval, que é quando você sai da sua bolha.
A minha reação diante de tanta lamentação normalmente é bem pessimista. Isso porque eu dificilmente acredito que o autor da crítica esteja reclamando de um problema por estar genuinamente preocupado em resolvê-lo. Tenho pra mim que essas reclamações todas servem mais pra promover quem reclama do que para efetivamente discutir soluções para problemas. 
O nosso cérebro vive procurando maneiras de categorizar as pessoas, e o gosto por carnaval (assim como gosto musical, forma de se vestir, gosto por determinados programas de televisão ou literatura, etc.) é só mais uma delas. Trata-se mais de um artifício para auto-promoção, porque a partir do momento em que tu questiona o passa-tempo de milhares de pessoas e sugere que elas são menos civilizadas por participarem daquela atividade, tu de certa forma está se colocando num pedestal.
Mas o problema maior sequer reside na atitude em si. O perigo está nas coisas que deixamos "de lado" para ficar batendo boca sobre isso.
Quantas vezes você já não leu alguém falando que BBB aliena? Aliás, o assunto está em vias de se tornar tabu na comunidade das pessoas intelectuais e muito profundas. Como sabemos muito bem, tudo que é tido como tabu/polêmica vira tópico frequente na língua do povo. Então lá vamos nós discutir se BBB aliena ou não. Enquanto nos envolvemos com este debate, independentemente de sermos contra ou a favor, outros assuntos deixam de ser discutidos. Então cria-se uma contradição: ao mesmo tempo em que você acha que está alertando as pessoas sobre a alienação causada por um reality show, você está fomentando uma discussão que vai roubar a atenção de outros debates e assuntos.  Para que falar sobre operação lava jato quando podemos criar textos imensos sobre um programa que está no ar há 15 anos e provavelmente vai continuar sendo transmitindo, quer você goste ou não?
Recentemente eu liguei a televisão no jornal local e assisti a cobertura de um protesto. O evento consistia basicamente num grupo de religiosos se voltando contra a exibição do filme “50 tons de cinza” no cinema da cidade. Ora, essas pessoas podiam se preocupar com a saúde, com a educação, com o fato de os parlamentares e magistrados recentemente terem votado o aumento de seus salários, e com as medidas controversas de governo tomadas pelo Governador (Sartori). Ao invés disso, estava o grupo a impor seu gosto sobre um grupo restrito de espectadores, ao invés de lutar por interesses universais.

O objetivo desse texto não é defender determinadas formas de entretenimento ou atacar um governo ou outro. O que eu quero dizer é que há uma série de questões social e politicamente relevantes sendo negligenciadas, porque as pessoas estão ocupadas demais levantando bandeira para defender marcas, artistas, livros, programas... Enfim, coisas e pessoas que se prestam a entreter ou servir, e que podem muito bem ser simplesmente ignoradas caso sejam julgadas desagradáveis. Nós somos passivos com o que importa, e agressivos com questões de gosto pessoal. Julgamos as pessoas por gostarem de um gênero musical, e não por suas atitudes e qualidades reais. Enfim:  desaprendemos a escolher nossas lutas.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

GRAMMY AWARDS




Ontem (08/02) aconteceu a Cerimônia do Grammy. Ela foi transmitida pela TNT, que contratou uma narradora eufórica pra fazer a tradução. A moça estava ali prestes a vir a óbito, mais desconfortável que a Sia cantando em público. 
Pra quem não sabe, a Sia é aquela loira platinada que tem medo de chamar atenção. Com o objetivo de amenizar seu problema, ela adota métodos alternativos, tais como matar uma ovelha e usá-la como chapéu... Porque obviamente isso vai ajudar ela a passar em branco na premiação. 
Também fomos agraciados com a presença de Nicki Minaj. Embora seu visual tenha despertado a curiosidade dos comentaristas de plantão, há de se convir que ela estava bem normal (se considerarmos seus padrões). Vai ver foi isso que causou tanta estranheza. Isso e o fato de ela parecer a "coroa" da moeda de um real. 
Outro destaque do tapete vermelho foi a Rihanna que, desejando atrair todo mundo para perto de si, resolveu usar um vestido dotado de campo gravitacional próprio. Enquanto isso, sua amante fazia cosplay de Leonardo DiCaprio e perdia o Grammy pela sabe-se-lá-qual vez. Miley foi consolar Katy acariciando seu seio, porque Miley socializa de maneiras curiosas e misteriosas (não tente entender). Quem não curtiu isso foi o John MazzzzZZZzzz.  
Por fim, o Grammy foi marcado por twitteiros, que, estupefatos, comentaram a porra toda tudo. Como se as roupas e cabelos bizarros, as parcerias “inusitadas” e as escolhas contraditórias dos críticos fossem novidade. Convenhamos, meus caros: isso acontece todo ano. Só mudam as figurinhas (às vezes). 
Aliás, os críticos fazendo escolhas inesperadas é a coisa mais esperada do ano, não só no Grammy como em todas as premiações de grande prestígio. Não deixa de ser uma maneira nada sutil de dizer “Calem boca, bilhões de pessoas. Eu sei o que é bom e vocês não”. 
Prefiro me abster de comentários acerca dos vencedores, com exceção do Pharell, que foi premiado pela música ‘Happy’. Na cyberland estavam todos emputecidos porque ninguém mais aguenta ouvir a bendita (música). A verdade, no entanto, é que estamos na era do entretenimento relâmpago. Nós recebemos uma enxurrada de músicas novas a todo instante. Isso faz com que percamos o interesse mais depressa, não só pelas músicas, mas pelos meios de entretenimento em geral. Claro que também tem o fato de que os artistas pop, pra sobreviver a esse cenário de mudanças frenéticas, ficam se reinventando. Resultado: todo mundo enjoativo e sem identidade, com exceção dos "dinossauros", aqueles artistas que já eram respeitados antes de a nossa tolerância para repetições ser drasticamente encolhida.